Uganda: Comandante do Exército de Joseph Kony rende-se
31 de março de 2017Michael Omona foi sequestrado com 12 anos e integrado como criança-soldado nas fileiras do Exército da Resistência do Senhor, liderado por Joseph Kony. Após 23 anos a trabalhar como informador de Kony, Omona escapou e rendeu-se às forças do Exército dos Estados Unidos a operar na República Centro-Africana.
"Fui sequestrado em 1994 e levado para o mato", afirma Omona. "Passado algum tempo, viemos para a República Centro-Africana. […] No mato, estive no departamento de informações, de 1995 até 2017."
O grupo rebelde combate o Governo ugandês há mais de 25 anos. Mas Omona promete agora trabalhar com o Executivo para encorajar outros a seguirem o seu exemplo e regressarem a casa.
Mais rendições?
O vice porta-voz das Forças Populares de Defesa do Uganda, Comandante Kiconco Tabaro, afirma que a rendição de Michael Omona é mais uma prova de que as operações contra os rebeldes estão a produzir resultados.
"Quando altos oficiais desertam o Exército da Resistência do Senhor, é um sinal de que a capacidade do grupo foi enfraquecida", comenta.
"Todos os nossos esforços estão voltados para acabar com a loucura do Exército da Resistência do Senhor. Pedimos a todos os rebeldes que saiam do mato."
Militares do Uganda e dos Estados Unidos têm estado a lançar panfletos nas selvas da República Centro-Africana, pedindo aos rebeldes que se rendam e que tentem obter amnistia.
John Baptist Odama, arcebispo da diocese de Gulu, espera igualmente que Omona não seja o último a render-se.
"Esperamos que mais rebeldes saiam do mato e se entreguem, continuem com a nossa benção e apoio", diz o arcebispo, que tem estado na linha da frente da mediação entre o Governo e os rebeldes para tentar alcançar uma solução pacífica para o fim da insurgência de Kony.
Amnistia?
Omona, agora com 35 anos, voltou para casa, em Gulu. O seu regresso acontece numa altura em que especialistas legais estão a tentar encontrar um mecanismo que garanta o perdão das vítimas da guerra a todos os rebeldes que regressam.
Uma das conselheiras do Ministério da Justiça do Uganda, Margaret Ajok, explica que o programa de amnistia vai agora começar a envolver as vítimas: "Devemos ter uma amnistia responsável, que permita a procura do perdão junto das pessoas que sentem que foram prejudicadas. Se os rebeldes procurarem o perdão, receberem a amnistia e forem perdoados pelas vítimas, será mais fácil reintegrá-los na comunidade."
Desde que as forças norte-americanas se juntaram às Forças Populares de Defesa do Uganda, na República Centro-Africana, os sequestros de civis diminuíram significativamente.
Um dos aliados mais próximos de Joseph Kony, Dominic Ongwen, rendeu-se em 2015 e está a ser julgado no Tribunal Penal Internacional, em Haia. Kony continua a ser procurado por crimes contra a humanidade.