Uganda: Eleições expõem choque geracional na política
14 de janeiro de 2021Os ugandeses votam esta quinta-feira (14.01) sob uma atmosfera de tensão, forte segurança e apagão nas redes sociais. A Internet começou a apresentar problemas às vésperas da votação - com algumas regiões do país a relatar interrupções completas ou abrandamentos significativos.
A campanha eleitoral foi uma das mais violentas dos últimos anos, com repressão policial e violência sem precedentes no Uganda. As forças de segurança têm ordens para atuar com firmeza se houver qualquer tentativa de boicotar a votação.
O atual Presidente, Yoweri Museveni, aos 76 anos, concorre a um sexto mandato. O político do Movimento de Resistência Nacional está no poder há mais de 35. Já o seu principal rival, Bobi Wine, da Plataforma de Unidade Nacional, tem apenas 38 anos e faz parte da nova geração que quer revolucionar um dos países mais jovens do mundo.
Para Wine, o General Museveni nunca enfrentou um cidadão comum nas eleições. "Eu venho representando uma massa de pessoas comuns, pobres, excluídas, revoltadas e famintas", diz o músico e parlamentar oposicionista.
Derramamento de sangue
À boca das urnas, jovens dizem que querem um país diferente e que já estão em condições de assumir as rédeas da governação para mudar o rumo dos acontecimentos:
"Vês até estas pessoas que estão aqui, estão aqui porque não têm nada para fazer porque não há empregos. Estou realmente chateado, nem sequer sei se este Museveni alguma vez irá embora e se teremos temos paz aqui no Uganda", reclama Wine.
Desde 8 de novembro, início da campanha eleitoral, vários candidatos da oposição, entre eles Bobi Wine, foram detidos por diversas vezes e impedidos de fazer campanha a pretexto de restrições impostas às concentrações populares no âmbito do combate à pandemia do novo coronavírus.
Com tanto derramamento de sangue durante o processo eleitoral, alguns cidadãos e apoiantes do ex-cantor "afrobeat" estão com o medo. "Não podes falar, mesmo a ti, como jornalista, as pessoas temem falar contigo porque podem falar quando os espiões estão por perto. Eles vêm e batem em ti. As pessoas estão assustadas, os seus corações não estão bem", adverte Wine.
Ferramentas bloqueadas
A nova geração que vinha apostando numa campanha de sensibilização digital, utilizando as redes sociais para cativar mais apoiantes jovens, viu o Governo suspender as funcionalidades do Facebook, Twitter, WhatsApp entre outros e baixar consideravelmente a capacidade da internet no país.
Uma estratégia que põe em causa a esperança de Bobi Wine. "Utilizámos muito as redes sociais. As eleições não foram de todo livres, mas isso não significa que não as possamos vencer. Isto é uma revolução!", constata.
Ao todo, dez candidatos participam das presidenciais. Quase 18 milhões de eleitores devem participar da votação.