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"Vulnerabilidade alimentar" ameaça população de Cabo Verde

Lusa
10 de fevereiro de 2018

Cerca de 140 mil pessoas poderão ficar em situação de vulnerabilidade nutricional aguda em Cabo Verde se não chover este ano, estimam as Nações Unidas, depois de uma missão para avaliar o impacto da seca no país.

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Foto: DW/N.dos Santos

A estimativa foi feita pelo Escritório das Nações Unidas para Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA), no final de uma missão de duas semanas de uma equipa de peritos da UNICEF, PNUD, OMS, ONUMulheres, FAO e PAM.

A missão está em Cabo Verde para avaliar o impacto da seca nas populações mais vulneráveis e identificar intervenções prioritárias e, na sequência do trabalho no terreno, irá elaborar um plano de respostas para fazer face à situação, estando a sua apresentação prevista para o dia 25.

Kap Verde Wassermangel
Cabo Verde atravessa uma das piores secas das últimas décadasFoto: DW/N. dos Santos

Na sexta-feira, a equipa esteve reunida no Ministério dos Negócios Estrangeiros para apresentar os resultados preliminares. No final do encontro, o diretor de Política Externa, Júlio Morais, explicou aos jornalistas que os dados recolhidos no terreno revelam que as ameaças são muito maiores do que se pensava.

"São cerca de 140 mil pessoas que podem estar em situação de vulnerabilidade nutricional, o que representa cerca de um terço de população cabo-verdiana. Neste momento, temos 36 mil. Aumentou quatro vezes para o fim do ano e, caso não chova, será catastrófico", disse Júlio Morais, citado pela agência cabo-verdiana de notícias Inforpress.

Esta situação, prosseguiu, vai levar o Governo a solicitar novos apoios junto de parceiros internacionais no sentido de mitigar os impactos sociais da seca. "Estamos a salvar os animais, apoiar os agricultores e a criar empregos, mas há o lado humano que está por detrás e é isto que esta missão veio atacar", disse, adiantando que o Governo irá elaborar um plano de respostas e depois convocar os parceiros.

Falta água e falta emprego

De acordo com o porta-voz da missão, Roberto Colombo, no terreno foram detetadas dificuldades no acesso à água e falta de empregos que permitam às pessoas ter rendimentos e consequentemente acesso à alimentação.

A representante do sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ulrika Richardson, considerou que, no acesso à água, além da quantidade, é preciso atenção à qualidade, sob pena de pôr em risco a saúde da população. Para Ulrika Richardson, a população cabo-verdiana sempre conviveu com situações de seca, mas para as famílias mais vulneráveis os desafios neste momento são muito maiores.

Dürre in Santiago Insel Kap Verde
Parceiros internacionais enviaram 10 milhões de euros para Cabo Verde no âmbito de um programa de emergência contra a secaFoto: DW/N.dos Santos

"Além de garantir o acesso a alimentos, é necessário acesso à diversidade de alimentos e isso tem um impacto também nas famílias mais vulneráveis. Também tem consequência sobre os níveis de nutrição para as crianças e aparecimento de doenças como a anemia", disse.

Cabo Verde atravessa uma das piores secas das últimas décadas, tendo em aplicação um programa de emergência para o qual mobilizou 10 milhões de euros junto dos parceiros internacionais.

A maior fatia foi disponibilizada pela União Europeia, que deu um apoio de 7 milhões de euros para o programa, que inclui ainda contribuições do Banco Africano de Desenvolvimento a título individual e em parceria com a FAO (2,2 milhões de euros), Luxemburgo (500 mil euros), Itália (300 mil euros) e Bélgica (170 mil euros), Espanha (50 mil euros) e Estados Unidos (42 mil euros). A estes valores juntam-se mais 100 milhões de escudos (906 mil euros) do Orçamento do Estado para 2018.

O programa de emergência tem como medidas prioritárias o salvamento de gado, mobilização de água, acesso a financiamento e criação de emprego no meio rural, mas nos últimos dias têm-se ouvido queixas de agricultores e criadores de gado de que as medidas são insuficientes e não estão a chegar ao terreno.

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