UNITA diz que Man Gena "teme envenenamento" em Moçambique
5 de abril de 2023O cidadão angolano Gerson Emanuel Quintas, conhecido como "Man-Gena", e que se encontra sob custódia com a família em Moçambique por denunciar o alegado envolvimento de altas autoridades angolanas no narcotráfico, "teme por envenenamento alimentar", denunciou, esta quarta-feira (05.04), a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA).
Um grupo de deputados deste que é o maior partido da oposição angolana esteve em Moçambique de 21 a 26 de março para interceder junto das autoridades e sociedade civil daquele país pela proteção e liberdade de 'Man-Gena'.
Saúde "débil”
Esta quarta-feira (05.04), em conferência de imprensa, em Luanda, o chefe da delegação parlamentar da UNITA, Olívio Kilumbo, apresentou o relatório da visita tendo referido que o estado de saúde deste angolano "é débil e carece de cuidados".
"O 'Man Gena' teme ser vítima de envenenamento alimentar. A esposa, em estado de gestação, denuncia ser-lhe negada assistência médica há mais de um mês". A cidadão angolana diz temer também pela sua vida "durante o parto previsto para muito breve".
Segundo o relatório, a delegação parlamentar da UNITA foi impedida de contactar diretamente o cidadão e a sua família aí retidos, tendo a interação sido possível apenas por via telefónica.
Gerson Quintas, que nas redes sociais usa o nome ‘Man Gena’, denunciou, há mais de um mês, o suposto envolvimento de altas figuras da polícia nacional e do Serviço de Investigação Criminal (SIC) angolano no tráfico de drogas. Após a denúncia, "Man Gena" refugiou-se em Moçambique, onde pretendia apresentar um pedido de asilo político.
Em reação no início do mês, o diretor do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) de Moçambique, Fulgêncio Seda, garantiu que o angolano e a sua família não serão extraditados para Luanda.
No entanto, em vídeos partilhados nas redes sociais, a mulher de 'Man-Gena' denunciou tentativas de assassinato e pediu ajuda e assistência médica.
Os deputados da UNITA disseram ter sido recebidos pelo embaixador de Angola em Moçambique para saber da situação jurídico-legal e humanitária de Gelson Emanuel Quintas, sua mulher e filhos. E mantiveram também encontro com o Serviço Nacional de Migração (SENAMI) moçambicano, onde solicitaram esclarecimentos sobre a situação dos angolanos naquele país, "mas não houve disposição por parte dos responsáveis máximos".
"Falta e abertura" das autoridades
O Ministério do Interior de Moçambique e o SENAMI "manifestaram falta de abertura e disponibilidade" para atender a solicitação da delegação do grupo parlamentar da UNITA, lê-se no relatório.
Ambas instituições, observam os deputados, indeferiram a sua solicitação formal para a visita e contacto direto com 'Man-Genas' e família.
Os deputados da UNITA recomendam que os ministérios das Relações Exteriores, do Interior e da Saúde da República de Angola, em concertação com os ministérios homólogos de Moçambique, assegurem e garantam condições de asilo, segurança e assistência médica à família de 'Man-Genas'. Pedem também que a Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana, no quadro dos acordos judiciários entre os dois Estados, investigue e apure as denúncias feitas pelo cidadão e que as organizações dos direitos humanos e a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos se mobilizem para chamar atenção sobre a "gravidade" da situação do cidadão angolano e família.
"Que os Estados africanos, verdadeiramente comprometidos com o combate contra o narcotráfico, retirem lições sobre o alegado envolvimento de agentes públicos com rede de traficantes de drogas", recomendam ainda.
Os deputados da UNITA mantiveram igualmente encontros com o presidente do grupo parlamentar da RENAMO, com atores da sociedade civil moçambicana e falou para órgãos de comunicação locais e internacionais no sentido de informar e sensibilizar sobre a situação da família em causa.
As autoridades governamentais, em Luanda, ainda não se pronunciaram sobre o caso 'Man-Genas'.