UNITA lança farpas ao Presidente João Lourenço
29 de setembro de 2020Para a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o desenvolvimento do país depende da descentralização. Não há volta a dar. Adiar as primeiras eleições autárquicas em Angola significa, por isso, adiar esse desenvolvimento e menosprezar os interesses nacionais, segundo o partido da oposição.
As eleições foram adiadas "'sine die' pelo Presidente da República, alegando razões ligadas à Covid-19", afirmou a deputada da UNITA Navita Ngolo, esta terça-feira (29.09), durante uma conferência de imprensa, no dia em se assinalam 28 anos desde as primeiras eleições gerais no país. "Neste quesito [das autarquias], mais uma vez, o titular do poder executivo faltou com a palavra e desrespeitou a opinião que lhe foi gratuitamente emitida pelo Conselho da República, muito antes do surgimento da Covid-19, revelando falta de vontade política e submissão do interesse nacional aos interesses de um grupo", disse
A UNITA está convicta de que a implementação das autarquias acelerará o desenvolvimento das comunidades e impulsionará a economia nacional, ao mesmo tempo em que os cidadãos poderão interagir mais diretamente com os seus governantes.
Este mês, o Presidente João Lourenço disse que "não há culpados" pelo adiamento das autárquicas. Mas a UNITA aponta diretamente o dedo ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), de João Lourenço.
"O pacote das autarquias não termina porque a maioria parlamentar de que é presidente o general João Manuel Gonçalves Lourenço recusa-se a agendar a discussão e aprovação de uma das mais importantes matérias, a Lei da Institucionalização das autarquias", sublinhou a segunda vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA.
Liberdade de imprensa
As críticas da UNITA a João Lourenço, que completou no fim de semana três anos na Presidência da República, não ficam por aqui.
Durante a conferência de imprensa desta terça-feira, em Luanda, a deputada Navita Ngolo denunciou também uma "subalternização" dos poderes legislativo e judicial ao poder executivo. E lamentou que a liberdade de imprensa no país se disfarce de "plural" mas seja "altamente partidarizada".
"Os órgãos de comunicação social continuam a ser usados para a maquilhagem da má governação e como veículos de propaganda a favor do presidente do MPLA, tal como nos velhos tempos", referiu Ngolo. "Basta rever a novela dos noticiários que marcaram o aniversário da sua investidura. Também nos ressalta o facto de a Televisão Pública de Angola (TPA) nunca se ter dignado a convidar o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, desde que foi eleito, quando até a vice-presidente do MPLA, depois de indicada, mereceu largo espaço na 'grande entrevista'" da emissora.
No entanto, a "maquilhagem" do sistema está a ficar esborratada, reforça a UNITA - por baixo da cara nova da Presidência notam-se hábitos antigos. O partido dá o exemplo das notícias sobre Edeltrudes Costa, chefe de gabinete de João Lourenço, que terá enriquecido com contratos públicos, segundo uma televisão portuguesa.
Segundo a UNITA, há "intocáveis, como são os casos do diretor do Gabinete do Presidente da República, o ex-vice-Presidente e outros que continuam a ser protegidos, mesmo diante de tantas denúncias anteriores e atuais da TVI e SIC, sob o silêncio impávido da Procuradoria-Geral da República e do titular do poder executivo. Com isso, fracassou igualmente a promessa do repatriamento de capitais", concluiu Navita Ngolo.