UNITA levará tema das autarquias "para todo o lado em 2024"
4 de fevereiro de 2024O líder da UNITA, maior partido da oposição angolana, considerou, este sábado (03.02), que o Presidente João Lourenço está a transformar Angola numa Coreia do Norte, estando o país pior do que no tempo do seu antecessor, José Eduardo dos Santos.
Adalberto da Costa Júnior, que se deslocou a Cabinda para uma visita de trabalho que incluiu contactos com várias entidades, realizou o primeiro comício do ano neste região para agradecer o "voto de confiança expressivo" na UNITA, que conquistou a província ao MPLA nas últimas eleições de 2022.
O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) fez do MPLA e do seu líder, João Lourenço, também Presidente angolano, o principal alvo do seu discurso, sublinhando que "quem ganhou não está a governar" e recordando o período eleitoral e pós-eleitoral de 2022 em que o "Estado não soube respeitar a democracia"
"Nós tivemos problemas em todos os comícios, mas não dissemos nada, porque o medo é inimigo dos direitos e diminuiu a participação", afirmou Adalberto da Costa Júnior, justificando desta forma os apelos feitos à "tolerância" e democracia.
Em tom de provocação, questionou os militantes e simpatizantes da UNITA que hoje se concentraram para ver o líder do partido sobre "qual era a Angola pior? A de João Lourenço ou a de José Eduardo dos Santos", recebendo como resposta "João Lourenço.
Adalberto da Costa Júnior afirmou que a Angola de hoje não esta só mal em termos económicos e financeiros, mas registou também uma redução na qualidade da liberdade e da pluralidade da comunicação social. Considerou que o regime está a conduzir Angola para se tornar numa Coreia do Norte, apontando a nova lei da segurança nacional como um perigo para a democracia, que concede, por exemplo, permissão para desligar a Internet em todo o país.
Autarquias
João Lourenço, responsabilizado pela pobreza e por impedir o desenvolvimento de Angola, é também o culpado por não haver autarquias, defendeu o dirigente da UNITA, criticando as tentativas de responsabilizar os deputados pela não aprovação do pacote legislativo autárquico porque quem está sentado na cadeira do poder tem medo das autarquias.
O líder da UNITA garantiu que vai levar o tema das autarquias "para todo o lado em 2024" e disse que a nova Divisão Político Administrativa do país tem como único objetivo impedir a realização do poder local.
"Temos de voltar à pressão pública, temos de voltar à rua, (porque) há pessoas que só sabem ouvir dessa maneira", continuou o político, sublinhado que é preciso "sair da zona de conforto" e, se for o caso, voltar as manifestações".
"Desde que as eleições acabaram, meteram na cadeia muita gente, é para vos meterem medo. Mas aqui não há ninguém cego nem distraído", vincou.
Adalberto Costa Júnior apelou também aos dirigentes europeus e de outros países que não apoiem ditaduras em África, salientando a necessidade de punir golpes de Estados institucionais pelos partidos que governam.
"Os dirigentes têm de vir aqui e mostrar que falam com a pluralidade senão vamos pensar que estão alinhados", referiu, acrescentando que a UNITA tem andado em busca de solidariedade para Angola.
"Tirámos as lições de 2022 e não vamos voltar a repetir em 2027", prometeu.
O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) realizou também, este sábado, o seu arranque do ano político com um comício em Luanda, onde João Lourenço discursou, deixando também diversos recados à UNITA.
Autonomia de Cabinda
Na mesma ocasião, o presidente da UNITA disse que o partido vai levar à Assembleia Nacional uma proposta sobre a autonomia de Cabinda, manifestando-se disponível para dialogar com todos os atores cabindenses sobre a melhor solução.
O líder da UNITA, que manteve na sexta-feira um acalorado debate com ativistas cívicos e políticos e membros da sociedade civil cabindense destacou que defende a autonomia e que essa proposta vai ser materializada.
"Quando chegámos, houve muita gente que nos criticou por que deveríamos primeiro ouvir e só depois anunciar, ok, tomámos boa nota e estamos de novo a atualizar as diversas opiniões", declarou, acrescentando que deve ser ponderada que tipo de autonomia se pretende e "deve sair de uma negociação verdadeira e transparente, e não imposta".
Adalberto da Costa Júnior elogiou o povo de Cabinda e considerou que "se não existisse petróleo talvez todos estivessem melhor, porque este recurso é também motivo das nossas divisões.