1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Urge reforma das Forças Armadas da Guiné-Bissau

28 de dezembro de 2011

A instabilidade política que se vive na Guiné-Bissau praticamente desde a independência do país é endémica. As causas são complexas. As soluções para tornar o país governável não são evidentes.

https://p.dw.com/p/13aif
Putsch in Guinea-Bissau. Foto: Jochen Faget f. DW
O exército da Guiné-Bissau não tem assumido um papel construtivo na democratizaçãoFoto: Jochen Faget

A Deutsche Welle falou com o cientista político português Paulo Gorjão, diretor do IPRIS - Instituto Português de Relações Internacionais e de Segurança, para tentar perceber as razões profundas da crise guineense. Em sua opinião o detonador foi um conflito entre dois altos quadros militares: “Há uns três quatro meses que havia referências constantes ao mau ambiente entre o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, António Indjai, e o Chefe do Estado Maior da Armada, Bubo Na Tchuto.

A situação vinha a arrastar-se há alguns meses com rumores frequentes de que Na Tchuto estava prestes a ser exonerado”, diz Paulo Gorjão, acrescentando que havia sinais de que a relação entre os dois se tinha vindo a degradar: “Isso talvez explique os acontecimentos desta semana.”

A resistência às reformas

(FILE) A file picture dated 10 March 2006 of Guinea-Bissau President, Nino Vieira during an event in Lisbon, Portugal.Nino Vieira, aged 69 is reported to have been killed early this morning in an attack at his house in Bissau, Guinea-Bissau, 02 March 2009. According to media reports, the killing coming on the heels of the killing the previous evening of army chief Batista Tagme Na Wai. French radio RFI, also reported that Vieira was killed by a group of military personnel who had been close to Wai. EPA/JOAO RELVAS +++(c) dpa - Report+++
O Presidente Nino Vieira foi assassinado por militares em 2009Foto: picture-alliance/ dpa

Para Paulo Gorjão o afastamento, por doença, do Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, hospitalizado em Paris, criou um vácuo de poder e reduziu drasticamente as tendências apaziguadoras no país. Todavia, a questão nuclear está na reforma das forças de segurança guineenses.

Quisemos saber do especialista do IPRIS quem está contra essas reformas: “Quem está contra é quem vai perder com isso. Sobretudo quem está contra é a geração de militares ainda do tempo da guerra de independência. Muitos deles são quem detêm o poder nas Forças Armadas. São os mais velhos, os mais respeitados”. Paulo Gorjão explica que é esta geração mais velha de militares que vai ser posta à parte, que será reformada neste processo de reforma do setor de segurança, a que mais teme a mudança.

O papel do tráfico da droga

People gather around a speedboat of a type believed to be used by drug traffickers, as it unloads cargo at a quay in Bissau, Guinea-Bissau, July 17, 2007. Geography is only part of the West African nation's appeal for traffickers trying to get cocaine to Europe. They also need a population that is largely unaware of their business and a weak, easily corruptible government. (AP Photo/Rebecca Blackwell)
A Guiné-Bissau debate-se ainda com um problema grave de narcotráfico, no qual parecem estar envolvidos oficiais do exércitoFoto: AP

O observador vai mais longe e não exclui a influência do narcotráfico existente na Guiné-Bissau na luta entre as fações militares que o querem controlar: “E depois há sempre aquela questão de que se fala, mas de que se tem medo de falar ao mesmo tempo, e que tem que ver com o eventual envolvimento das forças armadas no tráfico de droga” É que, esclarece, num país extremamente pobre retirar a setores das forças armadas uma fonte de rendimento “é sempre uma questão terrivelmente complicada.”

Na opinião do especialista do IPRIS as soluções são difíceis e estão cada vez mais distantes. A saturação e o cansaço da comunidade internacional relativamente à Guiné-Bissau são imensos, o que dificulta ainda mais a criação de soluções. “Mas a solução tem que passar por aí”, insiste Gorjão, e acrescenta: “Enquanto não houver a reforma do setor de segurança eu não acredito que na Guiné-Bissau haja alguma solução duradoira, porque a fonte de poder na Guiné-Bissau não é o poder civil. São os militares, sempre o foram desde a independência.”

Autor: Pedro Varanda de Castro
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha