Valentina Guebuza foi assassinada em casa
15 de dezembro de 2016Numa primeira indicação, a polícia concluiu que o assassinato de Valentina Guebuza resulta de um caso de violência doméstica. "Foi vítima de baleamento na residência. Foi usada uma arma de fogo do tipo pistola e [Valentina Guebuza foi] prontamente socorrida no Instituto do Coração. Não resistiu e foi dado o óbito", informou o porta-voz do comando-geral da polícia, Inácio Dina.
Uma outra fonte da polícia, o porta-voz da cidade de Maputo, Orlando Mudumane, disse que a vítima foi atingida por quatro balas, disparadas pelo marido, usando arma em posse ilegal.
Mudumane adiantou que o suspeito já estã a ser ouvido pela polícia. "No primeiro interrogatório policial, o indiciado teria referido que a convivência conturbada e tensa entre o casal teria sido o móbil daquele macabro crime."
Inácio Dina diz que a polícia já está a trabalhar no sentido de esclarecer o caso. "O principal indiciado, que é o esposo (Zófimo Muiane), foi detido e, neste momento, está em curso todo o processo que vai culminar com a devida responsabilização, se concluído o envolvimento deste cidadão, que está detido neste momento".
A polícia desmente informações que dão conta que Zófimo Muiane foi assassinado ou se suicidou.
A "princesa milionária"
O indiciado, Zófimo Muiane, casado com Valentina Guebuza há dois anos, é gestor de marketing da operadora móvel nacional, MCEL, além de empresário e dono de várias sociedade comerciais e de serviços.
A vítima era membro do Comité Central da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), para o qual foi eleita em 2012. A bancada parlamentar do partido no poder já lamentou o sucedido. "Mais uma vez a sociedade moçambicana é confrontada com uma atitude de violência doméstica contra a mulher que culmina com a morte trágica desta jovem de grande humildade", afirmou a chefe da bancada parlamentar da FRELIMO, Margarida Talapa.
Valentina Guebuza, de 36 anos, era tida como uma das empresárias moçambicanas melhor sucedidas. Foi considerada a sétima mulher jovem mais poderosa de África, numa lista publicada em 2013 pela revista Forbes, que a retratava como a "princesa milionária". A lista era liderada por Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.
Valentina liderava vários negócios da família Guebuza, como a Focus 21 Gestão e Desenvolvimento, uma holding que, em parceria com a empresa chinesa Startimes, ganhou recentemente a concessão, por adjudicação direta, da operação para liderar o projeto de migração da televisão nacional do sistema analógico para o digital. Uma operação avaliada em 150 milhões de dólares. O acordo de concessão foi entregue à Startimes Software Tecnology, empresa da China que detinha 85% da Startimes Mozambique, da qual Valentina Guebuza era presidente.
A Focus 21, na qual Valentina Guebuza ocupava o cargo de presidente do conselho de administração, tinha igualmente interesses nas áreas das pescas, transportes, minas, imobiliário e portos.
Através daquela holding, Valentina Guebuza tornou-se sócia das empresas Caminhos de Ferro de Moçambique, Cornelder de Moçambique, Nectar Moçambique, Sonipal, Seabord Moz, Rainbow Internacional, CFI Holdings, e Merec Industries, Limitada.
A filha de Guebuza era muitas vezes vista como estando a construir impérios com recorrentes ligações aos negócios iniciados pelos seus progenitores. O Centro de Integridade Pública chegou a pedir ao Ministério Público para a investigar o súbito enriquecimento de Valentina Guebuza, o que nunca terá acontecido.
Violência nos círculos do poder
Este não é o primeiro caso de violência doméstica próximo dos círculos do poder moçambicano. Josina Machel, filha do primeiro Presidente da República, Samora Machel, ficou cega de um olho, no final de 2015, num caso atribuído a violência praticada pelo seu companheiro.
Em 2007, o filho mais velho do ex-Presidente Joaquim Chissano foi associado ao assassínio do jornalista Carlos Cardoso, ocorrido sete anos antes. Durante o julgamento, vários arguidos ligados à morte do jornalista apontaram o envolvimento no caso de Nympine Chissano, dando origem a um processo autónomo, que não chegou ao fim, devido à sua morte, aos 37 anos.