Vendedoras dos mercados de Bissau queixam-se da falta de condições de higiene
20 de agosto de 2013A falta de saneamento e infraestruturas adequadas à condição humana remetem para um cenário que não parece ser do século XXI. Quem o diz é Celestina Cá, uma das centenas de vendedoras de hortaliças numa das mais movimentadas feiras do bairro de Cuntum Madina, na capital guineense.
“Há moscas por todo o lado por causa do mau cheiro e lixo. É realmente nojento estar aqui quando chove, num lugar onde não há casa de banho e onde as pessoas vendem no chão”, lamenta.
Repositório de doenças
Nos mercados improvisados da Guiné-Bissau, vende-se quase tudo. Desde peixe, fruta, carne, verduras, ervas medicinais, artesanato, roupas usadas e até comida confecionada. Samba Embalo mora a menos de três metros da feira de Cuntum Madina e não tem dúvidas de que o lugar é um repositório de doenças.
“Todos nós sabemos que o que se vende aqui é simplesmente uma doença. E o mais caricato é que ninguém faz nada para mudar o cenário. Depois quando se vai a um hospital procurar tratamento médico pede-se de imediato dinheiro. Nós, funcionários públicos, sem dinheiro há vários meses, como vamos fazer? Temos de nos prevenir”, explica o guineense.
Várias vozes levantam-se para chamar a atenção das autoridades, face ao quotidiano de muitos comerciantes que ganham o pão a trabalhar em locais onde o mau cheiro e o lixo são cartão de visita. A situação tem piorado, já que a Câmara Municipal de Bissau está sem recursos para fazer a recolha de lixo nos mercados.
“É preciso melhorar as condições da feira para se evitar a cólera. Aqui tudo se vende no chão com sujidade. E em tempos de cólera isso é muito perigoso. Pelo menos, coloquem mesas para as mulheres”, reclama Júlia Mancabo, uma das muitas pessoas que passa regularmente pelo mercado e que não se cala na hora de pedir mais condições de higiene para as vendedoras.
A Guiné-Bissau ainda não tem um supermercado ou um mercado de referência. E as vendedoras de frutas e hortaliças são muitas vezes quem leva dinheiro para casa para apoiar as famílias, isto porque os maridos, funcionários do Estado, recebem geralmente o salário com vários meses de atraso, devido às dívidas acumuladas do Governo.