Violência aumenta na República Democrática do Congo
30 de março de 2017Os militantes do grupo Kamuina Nsapu intensificaram as ações violentas na região sul do país após as tropas do Governo terem abatido o seu líder, que não reconhecia as autoridades de Kinshasa nos territórios que controlava.
A milícia é suspeita de estar por trás do sequestro e assassinato dos dois funcionários das Nações Unidas e da morte de 39 polícias no fim-de-semana.
Nos últimos meses, desde o início da insurgência, mais de 400 pessoas foram mortas. A ONU dá conta da existência de dez valas comuns na região, e 200 mil residentes terão já abandonado as suas casas.
A violência não se limita a Kasai. Em todo o país, as últimas semanas têm sido marcadas por conflitos, muitos deles étnicos.
"A situação é dramática", comenta Gesine Ames, observadora da Rede Ecuménica da África Central, uma associação de organizações religiosas alemãs que trabalha em conjunto com igrejas e grupos da sociedade civil.
"O Presidente Joseph Kabila não faz qualquer esforço para enviar o seu exército e proteger realmente a população nos pontos problemáticos. Pelo contrário, alimenta o conflito", critica.
O Governo congolês anunciou esta quarta-feira (29.03.) que vai investigar a morte dos dois especialistas da ONU e do seu intérprete. Três cidadãos congoleses que acompanhavam a missão de investigação em Kasai continuam desaparecidos.
Citado pela agência de notícias EFE, o exército garante que os ataques contra a milícia Kamuina Nsapu, em Kasai, vão continuar até que todos os membros se rendam.
Crise política
Na capital, Kinshasa, agrava-se a crise política. Na terça-feira, houve protestos e confrontos entre a polícia e manifestantes, depois do fracasso das negociações entre o Governo e a oposição.
Sob a mediação da Igreja Católica, as partes procuravam implementar um acordo para a transição política pacífica no país, enquanto o Presidente Kabila se mantém no poder após o seu mandato ter terminado oficialmente em dezembro. Mas a Igreja Católica abandonou as negociações, denunciando falta de vontade e incapacidade dos responsáveis políticos. "Normalmente a pressão religiosa na RDC é bastante forte e tem um impacto. Mas a situação atual é desesperante. Voltámos a uma política de pequenos passos", diz Natalie Ansorg.
A especialista em assuntos africanos no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo, considera que o acordo firmado entre o Presidente Kabila e a oposição para formar um Governo de transição, em dezembro, deve continuar a servir de base para as negociações. Mas tem sido difícil chegar a um entendimento para a transição política.
A oposição lança apelos à população para sair à rua em protesto, a 10 de abril, numa marcha contra o fracasso na implementação do acordo e a Presidência de Kabila.
O congolês Denis Kadima, diretor do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA), com sede na África do Sul, considera que o atual vazio de poder é perigoso: "A RDC já está em guerra civil. Temos de evitar um genocídio, ainda vamos a tempo", avisa.
O papel da comunidade internacional
Natalie Ansorg, do Instituto GIGA, pede que a comunidade internacional aumente a pressão sobre as autoridades congolesas para a apresentação de um calendário eleitoral. Segundo a especialista, empresas multinacionais e membros do Governo deveriam ser sancionados.
"É preciso impor sanções económicas. Mas para os lobistas em Bruxelas e Washington, os sacrifícios são demasiado grandes", refere.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas adiou a votação da renovação do mandato da missão de paz na RDC, que deveria ter acontecido esta quarta-feira. Segundo a agência de notícias France Presse, os Estados Unidos, que assumem a presidência do Conselho em abril, pretendem rever o desempenho e reduzir os custos das missões de paz da ONU em todo o mundo.
A MONUSCO não foi referida em particular, mas a França e outros países já alertaram para os riscos de reduzir a missão na RDC. O país deverá realizar eleições antes do final do ano, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu um ligeiro aumento dos agentes da polícia na missão.