Virtudes e fraquezas de Nyusi marcarão tom da campanha eleitoral em Moçambique
13 de março de 2014Para o membro da FRELIMO e reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique, Patrício José, não haverá qualquer mudança na política externa do país com o nome de Nyusi, caso o partido no poder volte a vencer. “Filipe Nyusi vai implementar a política externa de Moçambique, que já está definida. Não há aqui nenhuma novidade”, defende.
Segundo Patrício José, Filipe Nyusi irá “guiar-se pelos valores que a FRELIMO sempre defendeu, que estão no contexto da política externa de Moçambique”.
Isso significa que “vai defender os interesses do país junto dos parceiros que Moçambique tem para que consiga efetivamente criar equilíbrio suficiente para que possa merecer a confiança dos parceiros internacionais.”
Foco político no norte
No entanto, as mudanças que o partido estaria a vislumbrar seriam de âmbito interno. Para Joseph Hanlon, da Open University, a eleição de Filipe Nyusi marcaria o deslocamento do foco político e económico de Moçambique do sul para o norte.
Num artigo divulgado em círculos fechados, o investigador escreve que Alberto Chipande, um dos dirigentes mais fortes da FRELIMO, teria sido chave para a escolha de Nyusi. Chipande tem negócios ligados ao Corredor de Nacala e à ferrovia do Norte, que Nyusi administrou.
Chipande e Nyusi são Macondes, assim como Marcelina Chissano, a esposa do ex-Presidente Joaquim Chissano, que polarizou a política interna do partido com Armando Guebuza. O dilema da FRELIMO era escolher a primeira mulher no nome de Luísa Diogo ou o primeiro candidato do norte. Venceu a segunda opção.
A ideia é que até o final do mandato do próximo Presidente, como crescimento de importância dos negócios do gás, o norte ganhe maior peso político e económico no país. Apesar de sair vitorioso na disputa interna do partido, o nome de Filipe Nyusi dá esperanças à oposição que espera vencer as eleições.
Perfil “não inspira confiança”
Filipe Nyusi “não apresenta qualificações ou o perfil de alguém que possa inspirar ao país confiança, primeiro como político mas também como gestor”, afirma o analista político Silvério Ronguane, membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
“Afinal o que conta em Moçambique não é a virtude, o perfil, o esforço, o trabalho, é o acaso de ter nascido numa província com carvão ou com gás”, critica. Silvério Ronguane lembra também que “este candidato foi o autor do ataque a Satundjira, portanto pesam sobre ele essas tendências perigosas”.
O candidato preferido de Guebuza era o ministro da Agricultura, José Pacheco, rejeitado pela ala de Joaquim Chissano e Graça Machel. Para Hanlon, Nyusi tornou-se o nome de compromisso entre Guebuza e o grupo de Chipande, além de ser aceitável entre os veteranos de guerra.
A imprensa moçambicana já publicou declarações de Joaquim Chissano dando pleno apoio ao candidato do partido. Mas como é que a FRELIMO pretende ganhar as eleições com um nome aparentemente sem muita força e com estes pontos fracos?
“É um jovem que pode criar uma nova perspetiva na visão popular para que a FRELIMO seja vista como sendo aquela que, em processos democráticos, consegue fazer passar uma nova figura que não tem rigorosamente uma participação na luta armada, mas que nasceu no contexto da libertação do país”, responde Patrício José.