Zelensky: Ucrânia é "porta de entrada" da Rússia para Europa
22 de março de 2022O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, apelou nesta terça-feira (22.03), durante um discurso no Parlamento de Itália, a maiores sanções contra a Rússia, que continua a atacar várias regiões ucranianas.
"A invasão já dura há 27 dias, um mês, e precisamos de outras sanções e outros instrumentos de pressão para impedir a Rússia de se abastecer de reservas militares na Líbia ou na Síria, e para voltar à paz", afirmou o chefe de Estado, que foi aplaudido de pé por cerca de mil deputados italianos.
Zelensky advertiu ainda que o objetivo da Rússia é "influenciar a Europa" e "destruir os seus valores, a sua democracia e os seus direitos humanos", antes de completar que a "Ucrânia é a porta para o Exército russo, porque querem entrar na Europa".
"Uma guerra começada por uma só uma pessoa"
No seu discurso, Zelensky lembrou que 117 crianças foram mortas desde o início do conflito, a 24 de fevereiro, e que há também milhares de feridos, dezenas de milhares de famílias sem casa e milhões que foram obrigados a sair de onde vivem, "por causa de uma guerra começada por uma só pessoa", referindo-se ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que não citou nominalmente.
Além disso, o Presidente ucraniano afirmou que o Exército russo tomou as regiões costeiras, algo que "representa um perigo para todos os países vizinhos". Segundo Zelensky, foi graças à exportação de gás e petróleo da Rússia que esta guerra pôde ser financiada.
Quase 1.000 edifícios destruídos em Kharkiv
Moscovo anunciou, entretanto, que as forças pró-Rússia de Donbass, com o apoio de tropas russas, controlam desde segunda-feira nove localidades no leste da Ucrânia.
Na cidade de Kharkiv, a cerca de 50 quilómetros da fronteira com a Rússia, no nordeste ucraniano, os bombardeamentos de Moscovo deixaram quase 1.000 casas destruídas, informaram as autoridades locais.
"Em resultado dos constantes bombardeamentos de Kharkiv por parte do Exército russo, 972 edifícios foram destruídos; mais de três quartos, cerca de 778, eram residências", afirmou o presidente da Câmara da cidade, Ihor Terkhov.
"A situação na cidade continua difícil, o bombardeamento de áreas residenciais não pára e as equipas de resgate prosseguem as buscas nos escombros", completou.
De acordo com fontes oficiais da Ucrânia, os ataques contra Kharkiv provocaram a morte de, pelo menos, 500 civis.
Homenagem a sobrevivente do holocausto morto em Kharkiv
Hoje, o Parlamento alemão, o Bundestag, prestou homenagem a Boris Romanchenko, de 96 anos, que sobreviveu a vários campos de concentração nazis, mas foi morto na semana passada num ataque russo em Kharkiv. Os deputados cumpriram um minuto de silêncio em memória de Romanchenko e de todas as vítimas da guerra.
"A sua morte recorda-nos que a Alemanha tem uma responsabilidade histórica especial para com a Ucrânia", disse a vice-presidente do Parlamento, Katrin Göring-Eckardt.
"Boris Romanchenko é um dos milhares de mortos na Ucrânia. Cada vida que foi tirada lembra-nos que temos de fazer tudo ao nosso alcance para parar esta guerra cruel que viola o direito internacional e para ajudar as pessoas dentro e fora da Ucrânia", acrescentou.
Balanço da guerra
Moscovo e Kiev divulgaram esta terça-feira números divergentes sobre os soldados russos mortos na invasão da Ucrânia.
O Estado-Maior-General das Forças Armadas ucranianas aponta para 15.300 invasores mortos. Mas o Ministério da Defesa russo rejeita "estas alegadas perdas em grande escala" e adianta que, de acordo com dados oficiais, "no decurso da operação especial na Ucrânia, as Forças Armadas russas perderam 9.861 pessoas e outras 16.153 ficaram feridas".
Do lado civil, dados mais recentes da ONU mostram que a guerra já fez pelo menos 925 mortos e 1.496 feridos entre a população, incluindo 170 crianças – número que pode ser ainda maior, uma vez que os bombardeamentos dificultam a contagem.
O conflito provocou também a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, entre as quais 3,48 milhões para países vizinhos. Na Ucrânia, cerca de 13 milhões necessitam de assistência humanitária, indicam as Nações Unidas.