Zimbabué opta por "decisões dolorosas" para salvar economia
17 de julho de 2020Sibusiso Moyo foi o rosto da intervenção militar que derrubou o ex-Presidente Robert Mugabe, em 2017. Na televisão estatal, a 15 de novembro daquele ano, Moyo garantiu aos zimbabueanos uma transição estável. Pouco mais de dois anos depois, a promessa deu lugar à uma profunda crise económica no país, que enfrenta a escassez de combustível, alimentos e eletricidade.
Na entrevista que concedeu ao programa "Conflict Zone" da DW, Sibusiso Moyo, ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo do Presidente Emmerson Mnangagwa, disse que são necessárias "decisões dolorosas" neste momento.
"A mudança em 2017 e o advento do atual Governo foi o resultado de muitas questões, entre elas, a economia. E a segunda República assumiu uma economia que estava em dificuldades há muitos anos, por diferentes razões. Algumas prendiam-se com sanções, outras com a má gestão. Mas deixe-me dizer que havia esperança e ainda há esperança, porque temos de tomar decisões dolorosas para retificar a economia", justificou.
Desde o ano passado, o país proibiu o uso do dólar americano e adotou o dólar zimbabueano. Medida que o ministro Moyo diz servir para estabilizar a economia. No entanto, com uma inflação superior a 700%, a segunda maior do mundo, apenas a seguir à Venezuela, o valor da moeda local do Zimbabué tem diminuído a grande velocidade, atingindo o valor dos salários, o que tem provocado ainda greves frequentes por parte de funcionários do Estado.
Veículos de luxo em tempos de crise
E apesar das dificuldades económicas terem sido agravadas pela pandemia, o Governo do Zimbabué anunciou recentemente a compra de veículos de luxo para quase 50 diplomatas em todo o mundo. O investimento milionário gerou polémica no país onde muitos trabalhadores não recebem um salário decente.
Questionado sobre quais são as prioridades do Governo, o ministro respondeu: "Tivemos de garantir que os nossos diplomatas tenham mobilidade e isso foi um problema muito sério quando assumimos o cargo, porque as condições dos nossos diplomatas eram realmente um estado de colapso, pois usavam serviços como o Uber para se locomover. Algo que não é apropriado para um diplomata designado numa missão estrangeira."
No que toca aos direitos humanos, o Zimbabué também tem sido bastante criticado devido à repressão que já se assistiu durante vários protestos populares. No início do ano passado, por exemplo, as forças de segurança responderam violentamente às manifestações contra o Governo e a situação social no país, resultando na morte de quase 20 pessoas.
Na entrevista concedida à DW, Sibusiso Moyo assegurou que o seu Governo e a Constituição do país "articulam claramente todos os direitos da liberdade de reunião, da liberdade de expressão e da liberdade de religião.
Além disso, acrescentou, "tem havido bastante ênfase em termos de incorporação destes direitos entre a população. Mas não há na Constituição liberdade de violência em protestos. Não há liberdade de queimar os carros e tudo o mais. Tem de ser a liberdade que respeita os direitos dos outros."