Zimbabué: E agora, Mnangagwa ou Chamisa?
30 de julho de 2018No Zimbabué, já se contam os votos. Foram mais de 10 mil postos eleitorais por todo o país para receber os 5 milhões de eleitores. Em vários locais, os eleitores tiveram de enfrentar longas filas de espera.
"A afluência tem sido grande. Precisamos de paz, precisamos que toda a gente se sinta confortável para sair e exercer o seu direito de votar sem medo", declarou Priscilla Chigumba, presidente da Comissão Eleitoral do Zimbabué.
Chigumba comentou ainda que dois candidatos poderão ter violado o dia de reflexão, no domingo (29.07) mas recusou-se a dar nomes aos jornalistas. Apenas garantiu que o caso já tinha sido encaminhado para a investigação policial.
Foram as primeiras eleições da era pós-Mugabe, que liderou o país durante quase 40 anos. Para os mais jovens, foi o único Presidente que conheceram. As eleições representam, por isso, uma nova fase e muitos estão confiantes que, pela primeira vez, o seu voto terá valor.
Theo Mbongwa disse que até hoje não tinha votado, porque não sentiu que a sua voz fosse ouvida. Desta vez, sente que é diferente. "Hoje é um dia maravilhoso. Até senti um arrepio na espinha. Não importa quem ganha ou perde, pela primeira vez, os cidadãos do Zimbabué têm voz”, diz.
Pleito pacífico
O dia de eleições decorreu como a campanha até então, sem a violência de outros tempos. Depois de ter deixado o seu voto, o Presidente interino Emmerson Mnangagwa realçou isso mesmo.
"Estou feliz que tanto a campanha como o dia de voto tenham decorrido de forma pacífica. Não tenho dúvidas que terminará de forma pacífica", declarou o líder da ZANU-PF.
Por sua vez, o seu principal rival Nelson Chamisa, que tinha vindo a criticar a comissão Eleitoral, voltou hoje a mencionar possíveis irregularidades, especialmente nas zonas rurais.
"Espero que as urnas tenham sido usadas nas zonas rurais. Espero que não haja dúvida de que são genuínas e não falsas urnas", disse aos jornalistas depois de ter votado.
O candidato de 40 anos, em oposição aos 75 de Mnangagwa, diz representar a voz da juventude e da mudança e mostrou-se, uma vez mais, confiante na vitória.
"As pessoas estão a pronunciar-se e é claro que um voto é um voto para a vitória, para a liberdade, para a democracia, para um novo Zimbabué, um voto para uma nova direção", disse.
Mugabe surpreende
Quem também se deslocou às urnas foi Robert Mugabe. O ex-líder do Zimbabué disse que não votaria no atual partido no poder, o seu próprio ZANU-PF, e deu a entender que a sua escolha recair mesmo pelo candidato da oposição, Chamisa.
"Não posso votar naquele que me conduziram a esta situação. Também acho que [Joice] Mujuru e [Thokozani] Khupe [duas candidatas à Presidência] não têm muito para oferecer, portanto, sobra o Chamisa", comentou o antigo Presidente no domingo (29.07).
Não era segredo que, depois de ser retirado forçosamente da Presidência, a relação entre Mugabe e Mnangagwa, que chegou a ser o seu vice-Presidente, ficou tensa. Ainda assim, revelação da intenção de voto do ex-Presidente não deixou de ser surpreendente.
As declarações não passaram ao lado de Mnangagwa, que aproveitou para atacar o rival Chamisa, que acusou de ter um "pacto com Mugabe".
"Não podemos acreditar nas suas [de Nelson Chamisa] intenções de transformar o Zimbabué e reconstruir a nossa nação. A escolha é clara: vocês podem votar no Mugabe sob o disfarce de Chamisa ou trabalhar para um novo Zimbabué sob a minha liderança e do ZANU-PF", comentou no domingo (29.07).
Ao todo são 23 candidatos à Presidência, mas a luta será certamente entre Mnangagwa e Chamisa e as sondagens relatam uma corrida mano-a-mano. Se nenhum dos dois alcançar mais de 50% dos votos, haverá uma segunda volta em setembro. Os resultados deverão ser conhecidos, no máximo, até ao próximo sábado.