Zimbabué: Novo Governo deverá tomar posse hoje
4 de dezembro de 2017Os novos membros do Executivo do Zimbabué devem tomar posse esta segunda-feira (04.12). No entanto, o novo Presidente Emmerson Mnangagwa, tem vindo a ser sucessivamente criticado desde o anúncio, na semana passada, do seu novo gabinete. Mnangagwa atribuiu cargos a figuras ligadas às forças armadas e aos veteranos da União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF), deixando de fora a oposição. Os críticos dizem que o novo Presidente, ao contrário do que prometeu, não está a formar um Governo "inclusivo”.
Na lista dos 22 membros nomeados por Emmerson Mnangagwa está o general Sibusiso Moyo, que a 15 de novembro anunciou a intervenção militar na televisão estatal. O general será o próximo ministro dos Negócios Estrangeiros do Zimbabué.
Outro nome polémico é o do comandante da Força Aérea, Perrance Shiri, que assumirá a pasta do Território. Perrance Shiri liderou, na década de 1980, uma unidade militar que terá alegadamente participado no massacre de Matabeleland, que resultou na morte de 20 mil pessoas.
"Nada de novo"
Para Lovemore Madhuku, analista e apoiante da oposição, as nomeações do Presidente Mnangagwa mantêm as características do Governo anterior. "A única mudança é que Robert Mugabe já não é o Presidente em pessoa. Mas o Governo permanece com as suas características. O Governo ZANU-PF recompensa as pessoas que são leais, dando-lhes cargos públicos", assevera.
Ao tomar posse como Presidente da República a 24 de novembro, após a renúncia de Robert Mugabe, que ficou 37 anos no poder, Emmerson Mnangagwa disse que o país vive o auge de uma nova democracia. No entanto, na opinião de Thoko Matshe, analista política, o novo gabinete do Executivo não reflete o discurso do Presidente. Para a também ativista dos direitos humanos, o novo Governo, no qual foi depositada "tanta expetativa”, não tem estado a trazer "nada de novo”. "São velhos conhecidos sendo reciclados. É uma deceção também na medida em que quase não há mulheres, jovens ou nomes novos”, constata.
Terry Mutsvanga foi um dos milhares de cidadãos que comemorou a renúncia do ex-Presidente Robert Mugabe. Agora, depois de conhecidas as nomeações para o novo Executivo, diz-se desapontado. "Não há nada de novo neste gabinete. Não aumenta a nossa confiança. Não há nenhum jovem. Imagine que o ministro da juventude é alguém de quase 70 anos", frisa um zimbabuano, acrescentando que não há razões para comemorar. "Se quisermos encontrar a democracia neste país, ainda temos um longo caminho a percorrer", conclui.
Membros do ZANU-PF satisfeitos
No entanto, o descontentamento não é geral. Os membros do partido no poder aprovam as nomeações para o novo gabinete. Shepherd Takawand, membro da juventude da ZANU-PF, é um dos que "confia" e "aprova" as ideias do Presidente. A seu ver, Emmerson Mnangagwa "tem uma razão para nomear este gabinete". "Mesmo que ele nomeie um macaco, eu aprovo este macaco. Ele viu algo positivo neste macaco, que eu sei que trará resultados", explica.
Este fim de semana, o Presidente voltou atrás na nomeação de alguns dos seus ministros. Lazarus Dokora, a primeira escolha para a pasta da Educação, deixou o Governo após uma onda de críticas que o acusava de precarizar o sistema nacional de educação em anos anteriores. O seu substituto será Paul Mavima.
O chefe de Estado substituiu também o professor Clever Nyathi pela deputada do partido no poder Petronella Kagonye no Ministério do Trabalho e Segurança Social. O primeiro será conselheiro especial da Presidência para a segurança nacional e reconciliação.
Também Christopher Mutsvangwa, ex-militar e líder da Associação Nacional de Veteranos da Guerra de Libertação do Zimbabué, deixa o Ministério da Informação para ser conselheiro especial do Presidente.
Segundo um comunicado do Governo, as mudanças foram feitas para "garantir o cumprimento da Constituição e atender considerações de género".