África dividida sobre Trump um ano após eleição
17 de janeiro de 2018Nas ruas de muitos países africanos, o Presidente norte-americano continua a ser tema de conversa. Na semana passada, numa reunião na Casa Branca para discutir um acordo migratório, Donald Trump usou linguagem vulgar para se referir a países africanos, ao Haiti e a El Salvador - que apelidou de "países de merda" ("shithole countries" em inglês). E perguntou se não seria preferível abrir as portas dos Estados Unidos a cidadãos de países como a Noruega. Mais tarde, o Presidente negou ter usado a polémica expressão.
Muitas pessoas consideram que Trump é racista e os últimos comentários do Presidente só vieram reforçaram essa visão. A indignação já tinha aumentado quando Donald Trump assinou um decreto, em janeiro de 2017, a proibir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países maioritariamente muçulmanos, entre os quais o Sudão e a Somália.
Opiniões dividem-se
Muitos africanos têm expressado a sua revolta nas redes sociais. "Esse é o pior Presidente na História dos EUA. O balanço é tão negativo que o país deve escolher bem os seus futuros representantes em vez de um psicopata como esse", escreveu no Facebook o jovem angolano Bispo Inocêncio Jm Jm.
Já Alberth Garcia, também de Angola, tem uma visão completamente diferente. "Até aqui, o Presidente Donald Trump mostrou ser o verdadeiro homem a favor da verdade. Desmascarou os piores presidentes de África", respondeu no Facebook.
Neste momento, "o mundo precisa de um líder como Trump, caso contrário, não haverá respeito", defendeu também Ismaili Togolani. "Ele tem as suas falhas, mas o que ele fez pela América no ano em que esteve no poder é louvável", sublinhou.
Apesar destes elogios, a maior parte dos comentários sobre Trump nas redes sociais parecem ser negativos. "Não se pode contar com Trump. Ele é imprevisível", escreveu Sekou Samake, do Mali.
Barack Mganga Mwanamichezo, de Nairobi, a capital do Quénia, também está desiludido. "Ele não fez nada de substancial pela América, a não ser criar inimigos para o país", ao contrário de Barack Obama, "que fez coisas das quais não só a América se orgulha, mas também África e o mundo em geral".
África exige pedido de desculpa
As declarações depreciativas de Donald Trump provocaram reações em todo o continente. Os países africanos na Organização das Nações Unidas (ONU) exigiram um pedido de desculpas do Presidente norte-americano pelos comentários "racistas".
Vários governos convocaram os embaixadores dos EUA nos seus países. Na África do Sul, o Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder, classificou o comentário como "extremamente ofensivo". No Botswana, a chefe da diplomacia, Pelonomi Venson-Moitoi, falou num "terrível golpe" nas relações diplomáticas com os Estados Unidos.
A União Africana (UA) disse estar "francamente alarmada" com as declarações do Presidente norte-americano. A porta-voz Ebba Kalondo considerou as afirmações de Trump inaceitáveis, tendo em conta a realidade histórica e a quantidade de africanos que chegou aos Estados Unidos como escravos.
África não é prioridade
Mas há quem tenha uma visão diferente. "Não considero que a observação de Trump seja errada no caso de muitos países africanos muito mal governados", diz Frans Cronje, diretor executivo do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais, um grupo de reflexão política.
"As decisões políticas que esses governos tomaram para reprimir os direitos humanos e as decisões económicas que mantêm os seus países na pobreza é que fazem deles lugares onde muito poucos críticos de Trump, incluindo jornalistas e ativistas indignados, gostariam de viver", defende o especialista.
Frans Cronje também não acha que a administração Trump tenha um impacto particularmente negativo no continente. "África é um problema muito distante na lista de prioridades dos políticos e diplomatas norte-americanos, muito menos do ocupante da Casa Branca", disse em entrevista à DW.
O diretor executivo do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais também é cauteloso em relação à ideia, muitas vezes defendida no passado, de que a presidência de Obama era boa para África, ao contrário do governo de Bush. "Não há trocas comerciais substanciais, ajuda ou dados diplomáticos para sustentar essas afirmações", observa.
Autocratas não temem Trump
O jornalista zimbabueano Savian Kwinika é mais crítico sobre o impacto de Donald Trump no continente. E aponta o dedo aos autocratas africanos, que não têm de temer quaisquer consequências com a administração Trump. "As suas declarações impróprias e explosões dá-lhes força para fazer o que estão a fazer. A América está a espalhar o discurso do ódio e a violar todas as oportunidades de unir o mundo", disse Kwinika à DW.
Jornalistas africanos de todo o continente estão muito irritados com Trump, afirma Savian Kwinika, que é editor da CAJ News, uma rede de jornalistas com sede em Joanesburgo. Muitos membros escrevem quase diariamente sobre Trump e as suas declarações.
"O que Trump diz, provoca caos no mundo. Mas em África, por causa das suas últimas declarações, a temperatura está a ferver em todo o lado. Não há respeito pelos africanos que foram explorados na América quando desenvolveram o país há centenas de anos", critica Kwinika.
Segundo o jornalista, Donald Trump não valoriza o relacionamento com África, como fizeram os seus antecessores. "A relação que temos atualmente é a de um dono e um escravo".