África do Sul: Livro sobre Jacob Zuma causa frenesim
10 de novembro de 2017Em todo o mundo há situações em que a estreia de um filme muito esperado, ou a primeira venda de um telemóvel de renome, leve pessoas a formar bichas de horas à frente do cinema ou da loja. Já mais invulgar é que o mesmo aconteça quando é publicado um livro, ainda para mais quando não é um romance, mas um livro político. Mas é precisamente o que está a acontecer na África do Sul. E o motivo é um livro sobre o Presidente Jacob Zuma.
Na loja de livros, a vendedora Refilwe não sabe para que lado se virar: "É uma completa loucura. Às quatro da tarde ainda tinhamos 300 exemplares. Agora, uma hora mais tarde, não resta um livro".
Alguns sortudos ainda chegaram a tempo, como é o caso desta senhora: "Já temia não conseguir nenhum. Todos querem um. Por sorte ainda havia".
E os que conseguiram não escondem a sua satisfação: "Comprei o último. Que alívio. Não costuma entrar nestas correrias, foi a primeira vez".
Livro: nepotismo, corrupção, fuga fiscal e crime
Note-se: não se trata aqui de um novo Harry Potter, mas de um livro sobre Jacob Zuma, chamado "The President's Keepers", ou, numa tradução livre, "Os Guardiões do Presidente". Nele desenha-se o perfil de um Estado paralelo de contornos mafiosos, com nepotismo, corrupção, fuga fiscal e comportamento criminoso como temas centrais.
Um thriller político da vida real, que mostra como o Presidente Zuma ocupou as principais posições do Estado com aliados e familiares. Dos serviços secretos ao departamento de finanças, passado pela Polícia, pela Procuradoria da República e até às posições parlamentares mais importantes: todos os cargos são hoje exercidos por vassalos leais do Presidente, que dependem dele para manter a posição, a influência e a prosperidade.
Os seus acólitos são a garantia de que Zuma não vá parar à prisão. Em contrapartida ninguém lhes coloca limites de auto-enriquecimento. O livro até acusa Zuma de ter contactos com a máfia dos cigarros. Não admira que esteja a galvanizar os sul-africanos.
Outro cidadão diz: "A verdade é importante. Aqui muitas vezes é ocultada. Ouvi dizer que se trata de um trabalho jornalístico exemplar. Presumo que me vai impressionante e esclarecedor."
Livro em risco de ser retirado do mercado
O autor do do best-seller é Jaques Pauw, um respeitado repórter investigativo. Já na era do apartheid ele era famoso e temido pelas autoridades pelos seus trabalhos críticos. Na realidade, Pauw já estava reformado e a viver no campo, onde gere um pequeno hotel com a mulher. Mas voltou ao activo para escrever o livro. Graças às suas fontes no aparelho de segurança do Estado, conseguiu obter informações sensacionais o chamado Estado paralelo.
A obra foi publicada há uma semana, mas a primeira edição de 20 000 livros praticamente já esgotou. Para o que em grande medida contribuíram os serviços secretos sul-africanos, quando, na sexta-feira (03.11.), advertiram Pauw e os seus advogados que a reportagem divulga segredos do Estado. Por isso a editora foi intimada a retirar da venda todos os exemplares sob pena de ação judicial.
Esta tentativa deselegante de censura levou o público a apressar-se para comprar um exemplar antes que desaparecessem das livrarias. O efeito publicitário gratuito não poderia ter sido melhor. Agora resta saber se a esperança de muitos leitores de que o livro ajuda a combater a corrupção na África do Sul se poderá tornar realidade.