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Literatura

"É preciso dar mais atenção" aos jovens escritores

20 de março de 2019

Há uma nova geração de escritores moçambicanos à espera de ser conhecida, afirma o jovem autor Mbate Pedro, que estará na Feira do Livro de Leipzig, na Alemanha. É preciso combater "um certo ostracismo", avisa.

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Foto: DW/J. Carlos

Ainda é difícil viver da literatura em Moçambique, diz Mbate Pedro, membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).

"Como é que falas de escritores num país que tem menos de 10 livrarias para 28 milhões de habitantes, em que não há um sistema forte de bibliotecas? Um escritor tem que estagiar nesses sítios. É profundamente difícil", lembra o autor moçambicano, com trabalhos traduzidos para inglês e italiano.

Mbate Pedro, Schriftsteller aus Mosambik
Jovem escritor moçambicano, Mbate PedroFoto: DW/J. Carlos

O Governo moçambicano tem limitações financeiras, "com orçamentos muito restritivos", que não permitem desenvolver programas de divulgação dos autores moçambicanos.

"O Eduardo White, um dos nossos maiores escritores e poeta, dizia: 'não se vive de literatura, vive-se com ela, dorme-se com ela, convive-se com ela'. É o que a gente tem que fazer."

Nova geração de escritores desconhecida

No evento "Camões dá que falar", realizado na segunda-feira (18.03) em Lisboa, Mbate Pedro afirmou que "há ilustres desconhecidos da nova geração de escritores moçambicanos", cujas obras não circulam.

À DW África, o autor refere que Moçambique renovou a literatura de forma mais rápida do que os demais países africanos de língua portuguesa: "Já há uma geração de escritores depois da geração de Ungulani [Ba Ka Khosa] e do Mia [Couto], que é uma geração que já tem oito a nove livros publicados, já tem uma escrita consolidada e domínio da língua portuguesa, e que tem que ser mais conhecida fora de Moçambique. Até mesmo dentro de Moçambique esses escritores não são conhecidos."

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Festivais e prémios

Por isso, Mbate Pedro defende a aposta na mobilidade dos escritores, em linha com os objetivos da presidência cabo-verdiana da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Por outro lado, para que estes escritores possam ser conhecidos fora de Moçambique - na Europa, por exemplo - é preciso que as respetivas obras sejam traduzidas para outras línguas.

"O alemão é um dos idiomas em que, se fores traduzido para essa língua, tens acesso a um maior público; o inglês também, é verdade. Mas eles têm igualmente que circular mais dentro do circuito de língua portuguesa", diz.

"A participação dos escritores em festivais é muito importante também. E eu acho que os prémios literários, com todas as complexidades que têm, devem se abrir mais para este tipo de escritores."

Mbate Pedro dá o exemplo do "Prémio Camões", que deve ser mais aberto para os escritores africanos de língua portuguesa. "Porque os prémios têm este condão: para além de estarem associados a um valor monetário que pode aliviar algumas contas dos escritores, eles ajudam a dar visibilidade a jovens escritores", sustenta.

Deutschland - Buchvorstellung Literaturhaus Köln - Mia Couto
Escritor moçambicano Mia Couto, de visita a Colónia em abril de 2018Foto: DW/J. Beck

Na sombra dos famosos?

O escritor moçambicano lamenta o facto de serem sempre os mesmos autores a participarem nos grandes eventos literários. "É preciso olhar para fora dos 'big five', porque já há outros autores para além destes", insiste.

Mas ajudará ter um compatriota tão conhecido como Mia Couto? Ou a sua projeção internacional dificulta mais a entrada desta nova geração no mercado livreiro?

"Obviamente que ajuda", responde. "Quando nós vemos escritores como Mia Couto, Ungulani [Ba Ka Khosa] ou Paulina [Chiziane] a ganharem prémios fora de Moçambique, obviamente que eles dão visibilidade não só à sua própria obra, mas a toda a literatura moçambicana."

Mbate Pedro acha que se pode fazer mais, impulsionando, por exemplo, a crítica literária nos jornais e na academia, como se fazia nos anos 80, de modo a contrariar "um certo ostracismo em relação à nova geração", para a qual "é preciso mais atenção".

"É preciso dar mais atenção" aos jovens escritores

O autor moçambicano vai à Feira do Livro de Leipzig, que decorre de 21 a 24 de março, acompanhado do seu conterrâneo Lucílio Manjate. Juntam-se ao angolano José Eduardo Agualusa e a escritores portugueses convidados para um debate com editores sobre os trabalhos de edição na Alemanha, Suíça, Moçambique e Portugal.

A dupla moçambicana encontra-se na Alemanha com um promotor literário que trabalha na procura de mercado para os referidos escritores.

De acordo com Mbate Pedro, está a ser preparada uma antologia de prosa e poesia de novos autores moçambicanos, respeitando também a questão do género. Porque, acrescenta, "é preciso que os escritores moçambicanos saiam fora do círculo fechado de Moçambique e [do mercado] da língua portuguesa." Reforça, a propósito: "é preciso sempre olhar para além do universo da tua língua."

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