1600: Teólogo Giordano Bruno queimado vivo
"Posso ter sido qualquer coisa, menos blasfemador." Esta frase teria sido dita por Giordano Bruno no dia de sua execução. Em 17 de fevereiro de 1600, ele foi queimado vivo no Campo dei Fiori, em Roma, onde é relembrado desde 1899 com um monumento.
Ao contrário de Galileo Galilei (1564–1642), Bruno negou-se a refutar a teoria do astrônomo alemão Johannes Kepler (1571–1630), que aperfeiçoou a hipótese de Galileu Galilei de que a Terra girava em torno do Sol. Além disso, por ser padre e teólogo, suas heresias e dúvidas em relação à Santíssima Trindade, por exemplo, partiam de dentro da Igreja e foram interpretadas como um ato de insubordinação ao papa.
Nascido numa família da nobreza de Nola (próximo ao Vesúvio) em 1548, inicialmente chamava-se Fellipo Bruno. Aos 13 anos, começou a estudar Humanidades, Lógica e Dialética em Nápoles, no mesmo convento em que São Tomás de Aquino vivera e ensinara.
Em 1565, aos 17 anos, recebeu o hábito de dominicano, ocasião em que mudou o nome para Giordano. Ordenado sacerdote em 1572, continuou seus estudos de Teologia no convento, concluindo-os em 1575.
Fuga das autoridades eclesiásticas
Sua vida acadêmica foi marcada pela fuga constante das autoridades eclesiásticas. Lecionou em Nápoles, Roma, Gênova, Turim, Veneza, Pádua e Londres, antes de se mudar para Paris em 1584. Passou o período de 1586 a 1591 em Praga e nas cidades alemãs de Marburg, Wittenberg, Frankfurt e Helmstedt, onde escreveu a que é considerada sua principal obra: Sobre a associação de imagens, os signos e as ideias.
Apesar das advertências de amigos, voltou para a Itália em 1591, convicto de que na liberal Veneza não cairia nas garras da Inquisição. Mas logo foi preso e levado para Roma, onde passou seu últimos anos na prisão.
Giordano Bruno teria caído numa armadilha ao retornar à Itália. Na Feira do Livro de Frankfurt de 1590, uma dupla de livreiros a serviço do nobre veneziano Giovanni Mocenigo o teria convidado a ir a Veneza ensinar Mnemotécnica, a arte de desenvolver a memória, na qual era um perito. Pouco depois de sua volta, desentendeu-se com Mocenigo, que o trancou num quarto e chamou os agentes da Inquisição.
Encarcerado na prisão de San Castello no dia 26 de maio de 1592, seu julgamento começou em Veneza, foi transferido para Roma em 1593 e chegou à fase final na primavera europeia de 1599. Durante os sete anos do processo romano, Bruno negou qualquer interesse particular em questões teológicas e reafirmou o caráter filosófico de suas especulações.
Essa defesa não satisfez os inquisidores, que pediram uma retratação incondicional de suas teorias. Como se mantivesse irredutível, foi condenado devido à sua doutrina teológica de que Jesus Cristo era apenas um mágico de habilidade incomum, que o Espírito Santo era a alma do mundo e que o demônio seria salvo um dia.
Ao ouvir sua sentença, a 8 de fevereiro de 1600, teria dito aos juízes: "Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la".
Contribuição intelectual decisiva
A Congregação do Santo Ofício, presidida pelo papa Clemente 8º (1592–1605), ainda concedeu ao "herege impertinente e pertinaz" oito dias de clemência para um eventual arrependimento.
A capitulação de Bruno teria um forte efeito propagandístico num ano da "graça" como o de 1600. Mas ele preferiu enfrentar a pena de morte a renegar suas ideias. Seus trabalhos foram publicados no Índex em agosto de 1603 e só foram liberados pela censura do Vaticano em 1948.
Segundo os historiadores, Giordano Bruno prestou uma contribuição intelectual decisiva para acabar de vez com a Idade Média. Morto aos 52 anos, tornou-se um mártir do livre pensamento. Ele foi vítima da intolerância religiosa típica da chamada Contrarreforma, a batalha travada pela Igreja Católica contra a Igreja Reformada.
O martírio de Giordano Bruno em 1600, seguido do julgamento de Galileo Galilei em 1616, abriu um fosso de desconfiança entre a ciência e a religião.