1837: Nascimento da imperatriz Sissi
A historiadora Brigitte Hamann lembra que também as irmãs de Sissi eram "uma mais bonita do que a outra. E Elisabeth adorava apresentar-se ao lado de suas irmãs. Então, a presença dessas belas mulheres ajudou a tecer a lenda de Sissi em dose dupla".
A beleza era o principal capital de Sissi. Segundo Brigite Hamann, biógrafa da imperatriz, sua tez marmórea, os cabelos longos até os joelhos, a figura esbelta e o sorriso de fada tornavam-na irresistível já quando adolescente. Quando o jovem imperador austríaco Francisco José da Áustria procurou uma esposa à altura de sua posição social, Sissi foi a eleita, em detrimento de sua irmã mais velha, Helene, que já havia sido prometida ao imperador.
Segundo o historiador Ulrich von Otto-Kreckwitz, sobrinho em terceira geração da imperatriz, "Francisco José amou muito essa mulher. Eles tiveram quatro filhos: a primeira morreu cedo, depois veio a duquesa Gisela, o príncipe herdeiro Rudolph e, em seguida, a última duquesa, que sobreviveu a todos".
O amor sempre foi unilateral. A vida impessoal da corte era insuportável para a hipersensível Elisabeth. Poliglota, amante da arte e da natureza, achava o marido enfadonho, por ser extremamente consciente de seus deveres. Em sua vida dedicada ao culto da beleza corporal, à estética e à cultura, Sissi não tinha lugar para obrigações maternas ou atividades representativas.
Segundo Brigitte Hamann, ela dedicou-se de maneiras muito diferentes a seus filhos. "Quase não cuidou de Rudolph e ignorou Gisela completamente. Já Marie-Valerie era sua filha predileta. Os outros dois cresceram bastante solitários. Portanto, ela não pode ser classificada pelos historiadores como uma grande mãe."
Vaidade e solidão
A odiada vida na corte desgastou os nervos de Elisabeth. Viciada em dietas para emagrecer, refugiava-se em infindáveis viagens. Praticamente andava sumida da corte de Viena. O suicídio do filho Rudolph em Mayerling serviu-lhe de pretexto para abandonar de vez a vida pública. Nasceu aí o mito da bela misteriosa e inacessível.
Segundo o professor Ulrich von Otto-Kreckwitz, ela era "uma mulher extremamente vaidosa, muito egocêntrica e narcisista. O declínio de sua beleza doeu-lhe muito. Por exemplo, ninguém sabia que ela tinha dentes postiços, o que ela escondeu cuidadosamente. Daí seu rosto se enrugou e seus lindos cabelos se foram".
Na juventude, Elisabeth fizera questão de documentar e publicar sua beleza em retratos. Mas os rastros de sua velhice ninguém deveria ver. Realizou a façanha de manter-se viva na memória popular como eternamente jovem. Não há retratos dela depois do trigésimo aniversário. Os quadros anteriores eram retocados e vendidos como atuais.
Ela escondia sua verdadeira face atrás de véus e leques. A fuga constante do olhar dos curiosos tornou-a solitária. Preencheu com poesia seus últimos anos de vida em isolamento voluntário.
Afundada na solidão, confiava ao diário o que sempre escondeu do imperador Francisco José I. "Perambulo solitária sobre a Terra, há tempo alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse", escreveu pouco antes de morrer.
Morte trágica
A 10 de setembro de 1898, quando passeava às margens do Lago Léman, em Genebra, a imperatriz foi apunhalada no coração com um estilete pelo jovem anarquista italiano Luigi Lucheni. A esta altura, porém, Sissi era uma velha desiludida, que há tempo já havia criado seu mito de beleza imortal.
No centenário de sua morte, em 1998, chegou a ser comparada com a princesa Diana: casou-se por amor, ainda jovem e inexperiente; as bodas foram um espetáculo que durou uma semana e entusiasmou toda a Europa; desde o início, sua vida atraiu a atenção da imprensa e foi descrita como a beldade do século; era atlética, mas também anoréxica; manteve enormes disputas com a sogra; era tremendamente popular entre os súditos, mas detestada pela corte; embora amasse o imperador Francisco José, acabou por se afastar dele; e, finalmente, morreu de forma trágica.