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HistóriaAlemanha

1878: Inaugurado o primeiro crematório na Alemanha

Carsten HeinischPublicado 10 de dezembro de 2014Última atualização 10 de dezembro de 2020

Em 10 de dezembro de 1878, foi realizada a primeira cremação na Alemanha, na cidade de Gotha. A luta pela permissão dessa forma de funeral havia sido longa.

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Deutschland Krematorium der Hamburger Friedhöfe
Foto: Kai Nietfeld/picture-alliance/dpa

Como lidar com os mortos? Uma questão que cada cultura trata de maneira diferente. O único ponto em comum é que em todas elas o cadáver é submetido a algum tipo de cerimônia. Uma das cerimônias fúnebres mais antigas é a queima do corpo. Escavações arqueológicas comprovaram que a cremação já era praticada na Idade da Pedra.

Na Europa cristã, a prática era vista como imoral e pagã desde os tempos de Carlos Magno, o que não impediu a Inquisição de queimar pessoas vivas. A proibição de queimar cadáveres, porém, perdurou por um milênio.

Somente em meados do século 19, várias personalidades começaram a protestar contra a proibição. O linguista e historiador Jakob Ludwig Grimm proferiu palestras sobre a queima de cadáveres; o secretário prussiano da Saúde Johann-Peter Trusen escreveu um livro sobre A cremação como forma mais adequada de funeral e o médico legista Rudolf Virchow elogiou o fogo como "o melhor e mais perfeito meio de desinfecção".

O medo muito comum de ser enterrado vivo fez com que essas manifestações contassem com apoio popular. No entanto, as condições técnicas ainda não permitiam a cremação. Isso só mudou em 1867, quando a empresa Friedrich Siemens apresentou um forno a gás regenerador na Exposição Mundial de Paris. A invenção não tinha a mínima relação com a queima de cadáveres, mas não levou muito tempo até que se percebesse que ela poderia ser empregada para essa finalidade.

Em vez de Leichenverbrennung (queima de cadáveres), passou-se a falar de Feuerbestattung (funeral pelo fogo), por motivos psicológicos, principalmente para distanciar o novo procedimento das fogueiras na Ásia e no Oriente, além de a expressão ser mais elegante. No então ducado de Gotha, no leste da Alemanha, fundou-se até uma associação empenhada em legalizar a cremação, que logo contou com mais de cem membros.

Permissão para cerimônias crematórias

Após especialistas estarem convencidos da eficácia do aparelho da Siemens, a associação encaminhou ao governo do ducado o pedido de permissão para cerimônias crematórias. Este disse que não havia a intenção de se criar uma norma geral e encaminhou a decisão para o conselho municipal de Gotha, que não rejeitou a proposta, mas disse que ela era inviável devido aos altos custos.

Mas esse problema foi solucionado pela associação crematória, que conseguiu recolher um grande quantia de dinheiro, contando até mesmo com uma doação anônima de alta monta.

A construção do crematório, em arquitetura neoclássica, começou no início de 1878, e a primeira cremação foi realizada em 10 de dezembro daquele ano. O primeiro corpo a ser cremado foi o do engenheiro Karl-Heinrich Stier, natural da cidade, uma das pessoas que mais haviam se engajado por essa forma de funeral. Como ele falecera um ano antes do término da construção, deixou instruções para que seu enterro fosse provisório e seu corpo pudesse ser entregue às chamas assim que o crematório ficasse pronto.

Até 1890, Gotha foi a única cidade da Alemanha com um crematório, pelo que constam de seu registro nomes famosos, de vários países. Um deles é o de Bertha von Suttner, escritora e ativista do movimento pacifista, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 1905. Suas cinzas estão no crematório daquela cidade, num saguão reservado às urnas fúnebres.