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11 de setembro de 1903

Soraia Vilela

A 11 de setembro de 1903 nascia Theodor Wiesengrund Adorno, cujas teorias foram ao longo dos anos se transformando em "clássicos interdisciplinares".

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Theodor W. AdornoFoto: AP

Vir ao mundo em 1903 significou para Theodor W. Adorno nascer em plena virada de século. Uma infância antes de 1914, poupada das mazelas da Primeira Guerra Mundial. O W. do sobrenome está para Wiesengrund, sobrenome judeu de seu pai. Adorno della Piana é o sobrenome de sua mãe, cantora de origem corso-genovesa.

A juventude, Adorno passou em pleno laboratório intelectual que foi a República de Weimar, à qual se sucederia o desgosto com a ascensão dos nazistas ao poder, que expulsaram do território alemão toda a intelligentsia pensante. A seguir vieram a Segunda Guerra, Auschwitz, o exílio nos EUA, o retorno à Alemanha, a era Adenauer e os confrontos com os estudantes de 68.

Da proteção à exclusão

10. Internationale Ferienkurse für Neue Musik 1955
Adorno (dir.), em 1955, nos Cursos de Verão de Música Nova em DarmstadtFoto: IMD/Hans Kenner

Mentor da quebra do tabu em torno do nazismo, Adorno foi um dos responsáveis pelo despertar de consciência no pós-guerra. "Só hoje nos ficou claro o que Adorno desencadeou há 50 anos, ao escrever que compor um poema sobre Auschwitz seria um ato bárbaro. Ele quebrou o tabu de Auschwitz como ninguém, tornando claro à Alemanha que a democracia só é possível graças à auto-análise", diz seu biógrafo Stefan Müller-Doohm.

Para ele, a vida de Adorno pode ser vista através da dualidade entre "um sentimento de total proteção", que remete à sua infância, "e a amarga experiência da emigração. Dessa experiência de exclusão se alimenta sua posição crítica perante a sociedade", completa o biógrafo.

Vida e obra

Adorno Gedenkbriefmarke
Trecho de manuscrito e foto de Adorno em selo postal comemorativo de 2003Foto: AP

O professor Axel Honneth, ex-assistente de Jürgen Habermas, resume ao diário Frankfurter Allgemeine Zeitung o porquê do grande interesse em torno da biografia de Adorno: "Preferimos nos afundar na vida de Adorno talvez porque sua obra nos seja demasiado complexa".

Várias biografias foram publicadas por ocasião de seu centenário, em 2003. E é parafraseando o próprio Adorno que um de seus biógrafos, o sociólogo Detlef Claussen, autor de Theodor W. Adorno. Um Último Gênio, conclui: "Quando se pergunta (como Adorno o fez), se ainda se pode viver depois de Auschwitz, então falar da história de uma vida individual, de uma biografia, parece obsoleto".

Peito aberto

Der Schriftsteller Heinrich Böll, der Soziologie-Professor Theodor Adorno und der Verleger Siegfried Unseld
O escritor Heinrich Böll, Theodor W. Adorno (meio) e o editor Siegfried Unseld em 1968 em FrankfurtFoto: dpa

Nas biografias sobre Adorno, fala-se de tudo, desde seus apelidos em família, entre estes o lendário Teddie (ursinho) ou Wildsau (javali), até suas amargas incursões frente à Alemanha por ocasião do fim da Segunda Guerra Mundial: "Chegou a hora de ver aquilo que se esperou por anos a fio. O país transformado em lixo, milhões de Hansjürgens e Utes (N. da R. prenomes comuns na Alemanha) mortos. Um povo de pescoço quebrado, que se despede da história mundial como os cartagineses após a Segunda Guerra Púnica".

Alguns episódios da vida do pensador são dissecados à exaustão, entre eles o "ataque dos peitos" das três estudantes a 22 de abril de 1969, que na rebarba dos protestos de 1968 abordaram Adorno de blusas abertas, com o objetivo de confrontar o autor de Teoria Crítica com sua postura "conservadora" frente às reivindicações dos jovens de então.

Outro ponto em comum entre as biografias de Adorno é a atenção especial dada às modificações de seu nome, que passou no fim dos anos 30 de Wiesengrund – o sobrenome judeu do pai, um comerciante de vinhos de Frankfurt – a W. Adorno – a opção pela ascendência corsa da mãe católica (família Cavelli-Adorno della Piana).

Voyeur involuntário

Thomas Macho, professor de história da cultura na Universidade Humboldt de Berlim, observa em texto publicado pelo diário Frankfurter Rundschau por ocasião do centenário de Adorno em 2003, a condição de "voyeur involuntário" a que o leitor é submetido não apenas após a leitura das várias biografias, mas também das Cartas aos Pais. 1939-1951:

"Após a leitura destas cartas, os sentimentos do leitor permanecem ambivalentes. Será que ele queria mesmo saber tudo o que lhe foi dito aqui? Será que ele queria ser realmente testemunha dessa forma de comunicação privada, desprotegida e de estilo completamente distante do grande filósofo e esteta? Será que é necessário elucidar, por ocasião de um centenário, também os lados mais infantis e extremos de uma personalidade indubitavelmente significativa?". O próprio Adorno, se vivo, certamente diria que não.