1933: Alemanha nazista saía da Liga das Nações
Publicado 14 de outubro de 2015Última atualização 14 de outubro de 2021O ministro do Exterior do Reino Unido, John Simon, mal terminara seu discurso quando chegou o telegrama do governo imperial alemão. O então ministro alemão do Exterior, barão Konstantin von Neurath, comunicava ao presidente da conferência internacional sobre desarmamento, o diplomata britânico Neville Meyrick Henderson, que a Alemanha se via forçada a abandonar o encontro.
Pouco depois, o chanceler imperial Adolf Hitler declarou diante do Parlamento (Reichstag): "Já no meu discurso pela paz, em maio, eu havia dito que, sob essas circunstâncias, infelizmente não há como continuar na Liga das Nações e participar de conferências internacionais".
Tudo havia transcorrido conforme Hitler planejara neste 14 de outubro de 1933. Sob pressão da França, o Reino Unido e os Estados Unidos mudaram os planos internacionais de desarmamento. Sete meses antes, ainda parecia que a Alemanha, apesar do regime nacional-socialista, conseguiria fazer valer sua exigência de igualdade militar e abolição do Tratado de Versalhes.
Em fevereiro de 1932, no início da conferência sobre desarmamento de Genebra, os ingleses haviam proposto que o Exército alemão tivesse o mesmo tamanho que os demais Exércitos europeus – com exceção da Rússia – e, após cinco anos, o mesmo poder de fogo.
Para Hitler a proposta britânica não era de todo má. A França, por exemplo, seria forçada a reduzir seu Exército e Hitler teria legitimidade internacional para iniciar a primeira fase de armamento. O ditador alemão parecia estar disposto a aceitar a sugestão de Londres como base para as negociações.
A Hitler não interessava desarmar a Alemanha
No dia 17 de maio de 1933, Hitler surpreendeu a opinião pública alemã e europeia com o chamado discurso pela paz, no qual dava a entender que aceitava o Tratado de Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra Mundial impondo duras condições à Alemanha. "O nazismo não reconhece política de correção de fronteiras às custas de outros povos", declarou.
Na prática, porém, Hitler não dava a menor importância para acordos e via os compromissos multilaterais como um incômodo. Eles estava interessado apenas em armar – e não em desarmar – a Alemanha e na guerra.
Por isso, queria abandonar a Liga das Nações, fundada em 10 de janeiro de 1920, com a tarefa de garantir a paz mundial. Para o idealizador do organismo, o presidente norte-americano Woodrow Wilson, a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial significava a contenção do militarismo na Europa e a possibilidade de criar um fórum pacifista, com participação igualitária de pequenos e grandes países.
A estratégia de Hitler
A Alemanha fora admitida na Liga em setembro de 1926, após a assinatura de acordos de paz com a França, o Reino Unido, a Itália e a Bélgica. O império alemão teve de renunciar à Alsácia-Lorena (entregue à França) e recebeu em troca um afrouxamento do Tratado de Versalhes. A França e a Alemanha aceitaram assim as fronteiras definidas após a Primeira Guerra Mundial.
Com o êxito dos nazistas nas eleições parlamentares de 1930, cresceu na França o temor de uma retomada do militarismo alemão. Pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha fora obrigada a entregar aos vencedores da guerra seus submarinos e navios (com poucas exceções); proibida de manter aviação militar e marinha de guerra, e o exército fora limitado a 100 mil homens. Os nazistas, porém, insistiam no direito de rearmar o país, já que outras nações envolvidas na guerra não haviam reduzido seu poderio militar.
Liga acabou inviabilizada
Conforme era esperado por Hitler, Paris votou contra o plano inglês, sugerindo que o fortalecimento do Exército alemão fosse adiado por quatro anos. Com isso, os franceses forneceram um pretexto para os alemães boicotarem a conferência sobre desarmamento. Hitler, porém, tinha outras razões para crer na passividade das potências europeias e no fim iminente da Liga das Nações.
Para propagar a sua ideia, Wilson fora obrigado a fazer concessões que acabaram por inviabilizar a organização. O Japão, por exemplo, trocara seu ingresso na Liga pelas antigas possessões alemãs na China, mas abandonou o organismo em 1933. Já a França exigira inicialmente a exclusão da Alemanha e da Rússia (admitida somente em 1934).
Os Estados Unidos sequer ingressaram na Liga, por causa da inflexibilidade das nações europeias. As desistências alemã, em 1934, e italiana, em 1937, praticamente representaram o fim da Liga das Nações. O que veio depois foi o Eixo Roma-Berlim-Tóquio e a Segunda Guerra Mundial, de cujos destroços surgiu a sucessora da Liga: a Organização das Nações Unidas, fundada a 24 de outubro de 1945.