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História

1934: Nazistas assassinam ditador da Áustria

Marcio Weichert

Adepto do fascismo, Dollfuss quis manter a Áustria independente da Alemanha. Acabou vítima de uma tentativa fracassada de golpe nazista em 25 de julho de 1934. A anexação desejada por Hitler se consumaria mais tarde.

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Dollfuss tornou-se ditador com o apoio de milíciasFoto: LeMo Archiv

O fim da Primeira Guerra Mundial e a consequente desintegração do Império Austro-Húngaro esteve longe de proporcionar paz à primeira república da Áustria. Inicialmente, formou-se um governo de união nacional, com representantes de todos os partidos, liderado pelo social-democrata K. Renner.

Assim como na Alemanha e na Itália, a fome, a escassez de carvão, a alta inflação e o desemprego do período pós-guerra instauraram um ambiente de inquietação social e dificuldade para a consolidação de um novo regime político. Após dois anos de coalizão, o Partido Social Cristão rompeu sua aliança com o Social Democrata. Renner ainda conseguiu manter-se no governo até 1922, quando então os social-cristãos assumiram o poder.

A tentativa de golpe

O país alpino fervia com o crescimento do movimento operário social-democrata e a consequente reação das forças conservadoras. Rapidamente multiplicaram-se por todo o país milícias armadas, inclusive esquerdistas. Não raro, as ruas das cidades transformavam-se em praça de guerra, com choques entre os grupos, resultando em mortes e feridos.

Em 1927, os social-democratas ficaram indignados com a absolvição dos acusados de matar um homem e uma criança num confronto em Schattendorf e, durante um protesto em Viena, no dia 15 de julho, incendiaram o Palácio de Justiça. A polícia reprimiu com violência. Saldo: quase 90 mortos e mil feridos.

O episódio enfraqueceu os social-democratas e fortaleceu as milícias conservadoras, que aumentaram sua pressão contra o regime parlamentarista. Em 1929, o Congresso Nacional cedeu e aprovou uma mudança constitucional, atribuindo mais poderes ao presidente, inclusive o de dissolução do Parlamento para convocação de novas eleições. A crise econômica mundial de 1929 só agravou a situação, alimentando as forças nacionalistas.

Ditadura nos Alpes

Em 1932, Engelbert Dollfuss assumia a chefia de governo. Ex-combatente da Primeira Guerra Mundial, o filho de agricultores estudou Direito e engajou-se no movimento social-cristão ainda como universitário. Sua ascensão no partido foi rápida, sendo nomeado ministro da Agricultura em 1931.

O líder social-cristão não escondia sua simpatia pelo fascismo de Benito Mussolini na Itália. Por outro lado, temia a ingerência de Adolf Hitler no destino do país alpino. O ditador nazista chegara ao poder na Alemanha em janeiro de 1933, ganhando plenos poderes depois das eleições de 4 de março.

Dollfuss no poder

Coincidência ou não, o 4 de março também definiu o novo rumo da política austríaca. Naquele dia, Dollfuss dissolveu o Conselho Nacional e pôs fim à primeira democracia parlamentarista da Áustria. Meses depois, mais uma cartada para garantir seu poder, afastando seus adversários à esquerda e à direita: proibiu o Partido Comunista da Áustria (KPÖ) e a seção austríaca do Partido Nacional-Socialista Alemão (NSDAP), de Hitler. Em fevereiro de 1934, depois de um levante, o veto atingiu também o Partido dos Trabalhadores Social-Democratas.

Externamente crescia a pressão de Hitler para anexar o país vizinho. Para isto, o regime nazista promovia atentados e sabotagens na Áustria. Em resposta, Dollfuss foi buscar proteção no apoio de Mussolini, assinando com o ditador italiano, em março, um protocolo estreitando os laços entre os dois países. Em maio, Dollfuss anunciava a constituição de um Estado, de partido único, a Frente Patriótica.

Luta de classes literal

O ápice da onda de terror nazista seria atingido em 25 de julho de 1934. Disfarçados de soldados do Exército e policiais, 154 agentes da SS de Hitler invadiram a sede do governo austríaco em Viena. No ataque, Dollfuss, que já havia escapado de um atentado no ano anterior, terminou atingido por dois tiros e morreu.

Ao mesmo tempo, outro grupo de golpistas entrava nos estúdios de transmissão da rádio estatal Ravag e divulgavam a notícia de que Dollfuss havia passado o governo a Anton Rintelen. O golpe nazista estava se consumando na Áustria.

No entanto, em parte do país houve forte resistência e, após dias de combate, que resultaram na morte de quase 150 pessoas, o levante nazista estava desfeito. Treze rebeldes foram executados e cerca de 4 mil golpistas presos. Outros fugiram para a Iugoslávia.

Kurt Schuschnigg foi escolhido para assumir o governo e, em 1935, Rintelen foi condenado à prisão perpétua por traição à pátria. A vitória dos nacionalistas austríacos foi, porém, apenas provisória. Hitler não deu sossego ao novo governo, conseguindo finalmente a anexação da Áustria à Alemanha em 1938.