1945: Mulheres começam a reconstruir Berlim após a guerra
Trata-se de uma cena típica após a Segunda Guerra Mundial na Alemanha destruída: longas filas de mulheres sobre montanhas de escombros. Munidas de baldes, elas juntavam e limpavam pedras e tijolos nas cidades arrasadas pelos bombardeios.
Com lenço na cabeça, avental rasgado e sapatos puídos, essas mulheres tinham um ritmo de trabalho parecido com o de uma linha de montagem. Do alto dos montes de escombros, passavam os tijolos de mão em mão até chegarem embaixo, onde eram limpados e empilhados para serem reutilizados nas construções. Os homens estavam mortos, inválidos ou "desaparecidos", isto é, talvez só voltassem anos depois dos campos de prisioneiros.
Käthe Linke, por exemplo, trabalhava nessa atividade por 16 horas nos fins de semana. Durante a semana, cuidava dos filhos e cursava a universidade, uma exceção para a época. Os últimos bombardeios contra as cidades alemãs na Segunda Guerra Mundial foram arrasadores. Cerca de 40% dos prédios foram destruídos nas 50 principais cidades do país. Na maioria delas, sobraram apenas de 10% a 20% dos centros urbanos.
Cidades quase totalmente destruídas
Os Aliados usaram bombas incendiárias, de fragmentação e de detonação retardada e o famigerado bombardeio "em tapete", que varreu cidades inteiras do mapa. Foi o que ocorreu em Dresden, Colônia e em Munique, onde um único bombardeio destruiu 80% da cidade em 1943.
Além do desolador estado de destruição, o abastecimento nas cidades era precário. Muitas mulheres passavam horas nas filas do pão e da manteiga e, no fim, saíam de mãos vazias.
As "mulheres dos escombros" (Trümmerfrauen, como eram chamadas em alemão) só dispunham de primitivas ferramentas de trabalho: baldes, tábuas e as próprias mãos. Catavam tudo que, de alguma forma, ainda pudesse ser útil. Empilhavam as pedras e tijolos nas ruas e limpavam tábuas dos montes de ruínas.
Os momentos mais tristes ocorriam quando encontravam antigas lembranças das casas bombardeadas, como fotografias e roupas. Os poucos homens que haviam sobrevivido à guerra também apoiavam esse trabalho. Eles removiam pesadas barras de ferro dos escombros e transportavam os tijolos em caminhões. Mesmo naqueles tempos difíceis, todos alimentavam a esperança de dias melhores.
Käthe Linke lembra que essa esperança baseava-se, principalmente, na coesão e na camaradagem entre os sobreviventes da guerra. "Queríamos poder ir ao teatro de novo. E era bonito, também, descobrir que as mulheres começavam a conquistar sua autonomia", conta. Aos poucos, sua cidade foi reconstruída sobre a pedra fundamental lançada pelas mulheres, muitas das quais já foram esquecidas.