1947: Revista "Der Spiegel" entra em circulação
Publicado 4 de janeiro de 2016Última atualização 4 de janeiro de 2021"Os jornalistas alemães precisavam de mais liberdade de imprensa. Isso só seria possível se tivéssemos um semanário, pois papel era mercadoria rara. Um diário era inviável", conta o major britânico John Challaner, no pós-guerra oficial de controle da imprensa em Hannover, já que a Alemanha estava ocupada e era controlada pelos Aliados, vencedores da 2ª Guerra Mundial.
Para ele, a publicação teria de ser livre para tratar abertamente qualquer tema sobre o período de ocupação, praticando jornalismo tal como na Inglaterra. Na Alemanha ocupada, Challaner queria ensinar aos alemães os valores do pensamento democrático e da liberdade de imprensa, depois de anos sob a propaganda nazista concebida por Goebbels.
Em 4 de janeiro de 1947, uma nova publicação chegava às bancas de jornais, todos os sábados: Der Spiegel. Preço: 1 Reichsmark. A primeira capa trazia o enviado austríaco que negociava em Washington a soberania econômica e política para seu país. Observações comprometedoras dos redatores da Spiegel sobre a política da Áustria chamavam atenção para o respectivo artigo. Um tom incomum no jornalismo da Alemanha em 1947.
Challaner já observava, desde o fim da Segunda Guerra, um filho de industrial de Hannover: Rudolf Augstein. O britânico imediatamente estimulara Augstein a se engajar por uma nova imprensa, livre. "Ele havia sido, como eu, um oficial de artilharia e tinha uma personalidade marcante. Tudo o que dizia era sucinto e isso causava boa impressão", lembra-se Challaner.
Um ano antes da Der Spiegel aparecer, Challaner fundou a revista Die Woche e contratou Augstein como redator. Modelos para a publicação foram o periódico britânico News-Review e o americano Time.
Leo Bravant foi um dos primeiros redatores da Der Spiegel. "Primeiro, tínhamos de criar o lead, que deveria atrair o leitor. Em seguida, uma retrospectiva, na qual contávamos o que havia acontecido antes do fato em si, e então precisávamos encerrar o texto com algo que provocasse no leitor um efeito conclusivo", relata Bravant.
Augstein e seus colegas se instalaram no sexto andar do edifício An der Goserieder, em Hannover. Para todos, atuar como redatores era quase uma novidade. Praticamente nenhum deles possuía longa experiência jornalística.
Leo Bravant: "Só havia três pessoas com mais idade; todos os outros ainda eram quase adolescentes. Poucos tinham experiência jornalística. Não se deve esquecer que todos os redatores experientes haviam trabalhado para o Partido Nazista e estavam proibidos de exercer a profissão. Nós éramos realmente um grupo de leigos."
Ascensão de Augstein
A forma irreverente com que Die Woche tratava a realidade do pós-guerra em seus artigos, sem poupar as forças de ocupação, teve consequências. O major John Challaner, editor do semanário, acabou destituído da função: "No período natalino, a publicação deveria ser proibida, devido às reportagens impertinentes. E então veio a solução. Proibir não, pelo menos mudar o nome da revista e instituir um novo editor, e este foi exatamente Augstein. Ele pediu ao pai uma sugestão de nome. E este respondeu: Chamem a coisa de Spiegel", conta o major.
Todos estes anos, pouco mudou na Spiegel. Já sua primeira edição continha as seções Panorama, Alemanha, Mundo, Economia e Gente. E suas páginas eram divididas em três colunas.
Apesar de ainda ser bastante jovem, Rudolf Augstein soube desde o início dirigir a redação com firmeza. Ele e sua equipe agiam como uma turma de amigos. À noite, roubavam carvão juntos, para poderem trabalhar de dia numa sala aquecida. Eles se viam como a elite jornalística numa nova Alemanha democrática.
Augstein conseguiu em pouco tempo impor suas ideias na redação. Seu lema: Não se intimidar diante de nada e ninguém. "Eu lembro do dia em que, no Parlamento, nem Konrad Adenauer nem Kurt Schumacher me deram mais a mão. Uma mesma edição da Spiegel havia desagradado aos dois." Na época, o democrata-cristão Adenauer era chanceler federal e Schumacher, líder da oposição social-democrata. Augstein dirigiu a revista até sua morte, em 2002.