24 de junho de 1952
Seja na padaria, no supermercado ou na tabacaria, o Bild Zeitung atrai seus leitores todos os dias com a mesma fórmula: manchetes sensacionalistas em letras garrafais, sexo, esporte, curiosidades e notícias policiais, sempre em linguagem popular.
O maior tabloide da Europa nasceu numa segunda-feira, das rotativas da Editora Axel Springer, em Hamburgo. A tiragem inicial, de 455 mil exemplares, cresceu para um milhão em 12 meses.
O proprietário da editora e idealizador do jornal, Axel Springer, pretendia criar um diário nos moldes do britânico Daily Mirror, usando o poder da fotografia (Bild, em alemão). Em plena fase de reconstrução no pós-guerra, o objetivo era informar e oferecer entretenimento aos alemães.
Orientar o povo na Alemanha dividida
Sua primeira edição teve quatro páginas, textos curtos e fotos grandes. Entendendo-se como orientador da população numa nova situação histórica – a Alemanha estava dividida em Ocidental e Oriental, ocupada pelos soviéticos –, desde cedo seu alvo foi o "inimigo comunista".
Para reforçar este objetivo, foi aberta uma sucursal em Berlim, diretamente junto ao Muro. A crítica ao comunismo dirigia-se não só à República Democrática Alemã, também aos estudantes radicais de esquerda na Alemanha Ocidental no final da década de 60.
O momento mais marcante deste instigamento foi o atentado contra o universitário Rudi Dutschke, feito por um trabalhador, leitor regular do Bild. A reação foi muito grande em todo o país. Bloqueios diante das gráficas do diário em toda a Alemanha e o distanciamento da grande imprensa, sindicatos e social-democratas foram a consequência.
Apesar de o objetivo inicial ter sido o distanciamento da política do jornal de orientação conservadora, este é um dos temas mais frequentes de sua capa. Sexo, criminalidade e conflitos são seus temas principais. Ainda hoje, cria polêmicas e aproveita-se da exploração dos preconceitos na sociedade para aumentar a vendagem. Como no caso do afogamento do menino Joseph, no início dos anos 2000.
Embora o jornal inicialmente tivesse explorado o fato de que o menino foi morto por radicais de direita numa piscina pública, mais tarde foi comprovado que a criança tinha problemas de saúde e morreu de causa natural. A imagem da cidadezinha onde Joseph morava, entretanto, estava arruinada.
O poder de influência da publicação e sua importância como formadora de opinião foram abordados em várias publicações, como Império Springer, de Bernd Jansen e Arno Klönne. Ou ainda A Honra Perdida de Katharina Blum, em que Heinrich Böll baseia-se na história real de uma mulher, colocada indevidamente sob suspeita de envolvimento com o terrorismo.
Em 1979, o jornalista investigativo Günther Wallraf causou sensação ao publicar Der Aufmacher (A manchete). O livro enfoca o tempo em que trabalhou como repórter no Bild, usando um nome falso, e narra como a redação manipula informações, distorce e até inventa notícias.
Edição dominical desde 1956
A edição dominical surgiu em 1956 e tem uma tiragem de 2,6 milhões de exemplares. Somente na Renânia do Norte-Vestfália, estado mais populoso da Alemanha, no oeste do país, a tiragem diária é de um milhão de exemplares. O Bild é vendido em 100 mil locais na Alemanha e exportado para 48 nações. Além disso, ele é impresso diretamente nos centros turísticos preferidos dos alemães, em cidades da Itália e da Espanha.
Embora nem todos admitam, quem se considera bem informado dá uma espiada, nem que seja só na capa, para saber do que o Bild está tratando. "Formador de opinião" é o lema do jornal, que teve entre seus colunistas semanais o Kaiser do futebol, Franz Beckenbauer.