1952: Morre líder social-democrata alemão Kurt Schumacher
Publicado 20 de agosto de 2014Última atualização 20 de agosto de 2017"O Partido Social Democrata encara a república federal alemã como base para a unidade alemã. A tentativa de transformar as tendências nacional-comunistas comandadas pela Rússia soviética em portadoras do movimento pela unificação da Alemanha desembocaria numa unidade ao estilo de uma província russa, mas não na unificação alemã. A unidade alemã somente somente é possível sobre a base democrática da liberdade e da igualdade individuais e cidadãs e da similaridade das formas de governo nas quatro zonas de ocupação. Para transformar a república federal alemã-ocidental em ponto de partida dessa política, ela precisa ter liberdade interna e externa e se tornar um Estado politicamente justo. Somente assim ela poderá se tornar irresistivelmente atraente para os alemães orientais."
Palavras do primeiro presidente do Partido Social Democrata (SPD) do pós-Guerra, Kurt Schumacher, às vésperas das primeiras eleições para o Bundestag, em 13 de agosto de 1949.
Nascido em 1895, filho de comerciantes da Prússia Ocidental, próximo à fronteira da Polônia, Schumacher cresceu num meio pequeno-burguês e virou socialista convicto em consequência das experiências vividas na Primeira Guerra Mundial. Depois de estudar Direito e Ciências Políticas, escreveu uma tese de doutorado sobre "A história do movimento operário alemão", o que acabou determinando sua carreira política.
Em 1924, aos 29 anos, elegeu-se deputado estadual pelo SPD em Württemberg e, em 1930, para o último Reichtstag (Parlamento Imperial) escolhido por voto livre.
Os nazistas, que subiram ao poder em 1933, não o perdoaram por haver rebatido um discurso de Goebbels no Reichstag, um ano antes, dizendo que o "partido nazista vive apenas do patife interno do ser humano". Igualmente não esqueceram que ele ajudara a elaborar o último discurso histórico proferido pelo então presidente do SPD, Otto Wels, no debate sobre a "lei de plenos poderes" (Ermächtigungsgesetz). Por isso, Schumacher foi castigado.
Com duas pequenas interrupções por motivos de saúde, esteve preso de 1933 a 1945 em diferentes campos de concentração. Em maio de 1946, foi eleito presidente do Partido Social Democrata, cargo em que logo se transformou na "consciência social da Alemanha ressuscitada" e no mais eminente político do país. Tanto maior deve ter sido sua decepção ao perder a primeira eleição à chancelaria federal para Konrad Adenauer, da CDU – uma derrota que amargou até sua morte, em 20 de agosto de 1952.
Schumacher opôs-se energicamente às forças retrógradas do pós-Guerra. Por sua aparência, que revelava marcas do sofrimento e das privações que lhe foram impostas pelo nazistas, era uma espécie de retrato simbólico da Alemanha derrotada e padecente. Apesar disso, era um orador afiado, cuja retórica era temida pelos adversários políticos. Extremamente disciplinado e consciente de seus deveres, incorporava ao mesmo tempo o ideal socialista e o lendário estilo de vida prussiano.
Segundo sua companheira Annemarie Renger, que presidiu o Bundestag (Câmara Baixa do parlamento Alemão) de 1972 bis 1976, "a personalidade moral e política de Kurt Schumacher teve um efeito positivo para todo o país. Ele estabeleceu as bases para que o povo alemão se reencontrasse, no que ninguém mais acreditava – muito menos ele".
Segundo Renger, "depois de ter sido um dos poucos alemães a sofrer mais de dez anos por sua convicção política, Schumacher após 1945 não tinha ódio ou inimizade por esse povo que, na maioria, havia eleito os nazistas e depois defendeu o hitlerismo".
Pelo contrário, ele o via como um povo desviado, que precisava ser reintegrado à comunidade das nações. "Se essa terrível guerra teve algum sentido – o de varrer o nazismo do mapa da história –, então esse povo não deveria apenas enfrentar os sofrimentos, mas também ser conduzido a um caminho que o leve a ser encarado novamente com um povo com igualdade de direitos neste mundo."