1961: Acaba a primeira Conferência dos Países Não Alinhados
Publicado 6 de setembro de 2016Última atualização 6 de setembro de 2022O conceito de Terceiro Mundo está diretamente ligado ao conceito do Movimento dos Não Alinhados. A designação Terceiro Mundo foi usada pela primeira vez em 1949, referindo-se aos países mais pobres da África e da Ásia. Pouco depois surgiu também a ideia de um "terceiro caminho", que logo resultou no Movimento dos Não Alinhados.
Para os países do Terceiro Mundo, ser não alinhado significava manter a neutralidade num ambiente de tensão, ou seja, não se deixar envolver nem pelos países comunistas, controlados por Moscou, nem pelos países industrializados ocidentais, fortemente orientados para os Estados Unidos.
E não foi por acaso que exatamente os países não alinhados, isto é, neutros, tenham sido áreas antes colonizadas pelos europeus e que, após a sua independência, desejavam desligar-se inteiramente do respectivo país colonizador.
Depois de conquistar a liberdade, de forma pacífica ou através de luta, tais Estados, chamados então de "novos países", da África e da Ásia, temiam o surgimento de uma nova forma de dependência. No seu caminho para a neutralidade, esses países – independentes, mas pobres – não puderam, contudo, evitar a aceitação de ajudas pelo menos rudimentares dos dois blocos para garantir a subsistência inicial.
Para o Movimento dos Não Alinhados, o "terceiro caminho" designa também uma nova concepção de economia. Não se busca nem o caminho capitalista nem o caminho comunista da economia: a meta é uma mescla dos dois sistemas.
Aliança afro-asiática
No início dos anos 1950, os Estados asiáticos buscaram uma aliança mais estreita com os países africanos. Em abril de 1955, Indonésia, Birmânia, Ceilão, Índia e Paquistão promoveram a legendária Conferência de Bandung, na Indonésia. Os 29 países participantes representavam mais da metade da população mundial.
A conferência refletiu a insatisfação que predominava nos países iniciadores do movimento. A pauta incluía temas como a tensão reinante entre a República Popular da China e os Estados Unidos. O colonialismo foi condenado em todas as suas formas e consequências, da mesma forma como a influência da França sobre o Norte da África ou o conflito da Indonésia com a Holanda, motivado pela região ocidental da Nova Guiné.
A conferência de uma semana de duração foi encerrada com uma declaração de dez pontos, contendo sobretudo a conclamação à paz mundial e à observância dos princípios das Nações Unidas.
A primeira Conferência dos Países Não Alinhados que utilizou este nome foi realizada em Belgrado, capital da então Iugoslávia, e encerrou-se em 6 de setembro de 1961.
Tornaram-se óbvios os conflitos entre os delegados. A Índia, por exemplo, foi criticada por ter abandonado o princípio da neutralidade e votado a favor da União Soviética na ONU, em 1956, após a invasão da Hungria por tropas soviéticas.
Já no caso de um conflito de fronteira com a China, a Índia buscou – com êxito – o apoio dos países ocidentais: os chineses se retiraram do território indiano. Também a anfitriã Iugoslávia buscara um caminho próprio. O então presidente da República Socialista da Iugoslávia, Josip Tito, negociava preferencialmente com os países que não se envolviam no conflito Leste-Oeste. Na época, seus parceiros prediletos eram o Egito e a Índia. Cuba, por sua vez, destacava-se entre os não alinhados pelo enorme engajamento contra os países ocidentais.
Interesses divergentes
Nos anos seguintes, aumentaram os esforços de autonomia dos países do Terceiro Mundo e eles aderiram, na sua maior parte, ao Movimento dos Não Alinhados. Mas surgiam cada vez mais querelas entre as nações participantes. Empalidecia, assim, o conceito de uma solidariedade afro-asiática. A almejada neutralidade dos países não pôde ser mantida a longo prazo, em face da sua difícil situação econômica. Isso se agravava ainda pelo atraso de desenvolvimento dos países recém-independentes.
Além disso, existiam inimizades entre muitos dos países não alinhados, por exemplo, entre o Irã e o Iraque. Essas tensões internacionais favoreceram a posição das grandes potências – EUA e União Soviética, mas também da China. As premissas de 1955 e de 1961 perderam força, tornou-se cada vez mais difícil encontrar posições comuns, seja na política exterior ou nas situações de crise.
Com o fim da Guerra Fria e a extinção da União Soviética, em 1991, o conceito político da "neutralidade" como princípio comum de ação deixou de ter significado.