12 de março de 1964
"Inimigo número 1 do regime" na década de 1970, o então professor de química desempregado Robert Havemann passou quase três anos em prisão domiciliar nas proximidades de Berlim. Mesmo assim, o regime comunista da antiga República Democrática Alemã (RDA) não conseguiu calá-lo. Amigos ocidentais que o visitaram conseguiram contrabandear e publicar no Ocidente o depoimento do mais famoso crítico ao regime de Berlim Oriental.
Já os nazistas haviam tentado silenciar Havemann por sua ativa participação na resistência contra Hitler. A Gestapo conseguiu prendê-lo e, em 1943, o condenou à morte por alta traição à pátria. Ele só sobreviveu porque a execução foi adiada duas vezes, para que continuasse, na prisão, importantes experiências de guerra encomendadas por Hitler.
Críticas incômodas ao real socialismo
Logo depois da fundação da Alemanha Comunista, Robert Havemann ainda chegou a ser celebrado como herói antifascista. Mas, com o passar do tempo, o engajamento político do professor de química começou a incomodar o novo regime comandado por Moscou. Marxista convicto, começou a criticar o real socialismo em suas palestras e artigos. Seu ideal de liberdade e democracia não combinavam com a prática na Alemanha Comunista.
Em 1956/57, o partido comunista alemão-oriental ainda conseguiu contornar o conflito com Havemann, pois precisava dele para a campanha de reconhecimento internacional da RDA como segundo Estado alemão. Nesta missão, viajou pelo mundo e fez palestras , por exemplo em Londres.
Aulas na universidade para propagar ideias
A situação, no entanto, ficou crítica na década de 1960. Depois do distanciamento de Stalin e da construção do Muro de Berlim, Havemann acreditava ter chegado a hora da verdadeira expansão do socialismo na Alemanha Oriental. Para propagar suas ideias, usava as aulas que dava na Universidade Humboldt em Berlim. O título provocador da série de palestras que proferiu foi "Aspectos científicos de problemas filosóficos".
Segundo ele, o problema primordial da Alemanha comunista era a questão da liberdade. Ele exigia a democracia e a liberdade no regime de Berlim Oriental. Em pouco tempo, os seminários que proferia viraram acontecimento político-cultural e atraíam espectadores dos dois Estados alemães.
Temendo a repercussão das ideias de Havemann, o governo comunista resolveu excluí-lo do partido e caçou sua cátedra em 12 de março de 1964. A tentativa de isolá-lo, entretanto, não surtiu efeito. Ele recebeu a solidariedade de muitos oposicionistas e artistas conhecidos, que também acabaram sentindo a pressão do Estado.
Havemann, ou o "Sakharov da RDA", em menção ao dissidente russo, levou sua luta adiante, permanecendo como figura-chave da oposição na RDA nas décadas de 1960 a 1980.