27 de fevereiro de 1975
O carro de Peter Lorenz, presidente do diretório da União Democrata Cristã (CDU) de Berlim, foi interceptado pouco depois de ele sair de casa. Os sequestradores pertenciam ao Movimento Dois de Junho, que lembrava o dia do assassinato do estudante Benno Ohnesorg por um policial, em 1967, durante uma manifestação contra o xá da Pérsia. O sequestrado, jurista de 52 anos, era o principal candidato da CDU às eleições que se realizariam quatro dias mais tarde em Berlim.
Esse primeiro sequestro por motivos políticos marcou um acirramento do confronto entre o Estado e os terroristas na Alemanha. Tendo início nos anos 60 e seu auge no chamado Outono Alemão de 1977, o terrorismo se exauriu no país na década de 90.
Lorenz relembrou assim o sequestro: "Deram-me uma ou duas injeções que não me anestesiaram por completo, mas me deixaram fora de combate. Troquei duas vezes de carro, até ser levado ao porão de uma casa. Nos seis dias em que fiquei lá, meus sequestradores me trataram bem".
Governo alemão cedeu
Os primeiros sinais de vida de Lorenz foram transmitidos 24 horas depois do sequestro. Uma foto da vítima com um cartaz do movimento terrorista foi divulgada no mundo inteiro. Tratava-se de uma foto enviada à agência alemã de notícias DPA, junto com uma carta com reivindicações dos terroristas, que não eram ligados à Facção do Exército Vermelho (RAF), embora simpatizassem com ela.
Os sequestradores exigiam a libertação de seis terroristas em 72 horas. Em Bonn, então sede de governo, o chanceler Helmut Schmidt criou imediatamente uma comissão para negociar com os raptores. O fato de os prisioneiros não terem sido condenados por assassinato facilitou a decisão pela sua soltura. A exigência acabou sendo atendida e a decolagem do avião da Lufthansa foi transmitida ao vivo pela televisão.
Conforme pediam os raptores, os terroristas libertados foram acompanhados pelo ex-prefeito de Berlim, o pastor Heinrich Albertz. Este havia renunciado ao cargo justamente por causa da morte de Ohnesorg em meio às manifestações estudantis do final da década de 60.
Ao retornar à Alemanha, no dia 4 de março, Albertz leu uma mensagem com a seguinte frase: "Um dia tão lindo como hoje". Era o código enviado pelos libertados no Iêmen, avisando aos sequestradores de Lorenz que tinham chegado bem. Pouco depois, o próprio refém telefonou para sua família, avisando seu paradeiro. Ele havia recebido algumas moedas para telefonar, depois que fora deixado num parque em Berlim. Alguns meses mais tarde, seis sequestradores foram presos e condenados.
Foi a única vez em que o Estado alemão cedeu ao terror. Dois meses mais tarde um comando da RAF invadiu a embaixada alemã em Estocolmo e exigiu a libertação de 26 companheiros presos na Alemanha. Seguiu-se uma operação policial que deixou saldo de um terrorista e dois diplomatas mortos.