1987: Uwe Barschel é encontrado morto
Publicado 11 de outubro de 2014Última atualização 11 de outubro de 2017"Não há dúvidas de que nenhum outro político na história da Alemanha foi tão prejudicado por um funcionário de seu círculo de colaboradores mais próximos", dizia o artigo intitulado "Watergate em Kiel – os truques sujos de Barschel" e publicado na revista Der Spiegel, edição de número 38 de 1987.
Com esse artigo, publicado um dia antes das eleições em Schleswig-Holstein, a Der Spiegel trouxe um elemento novo para a campanha eleitoral do estado alemão. Reiner Pfeiffer, assessor de imprensa do político democrata-cristão, disse à revista que teria sido encarregado por Barschel, então candidato a governador de Schleswig-Holstein, de iniciar uma campanha difamatória contra seu adversário político, Björn Engholm, candidato do SPD.
Da campanha fariam parte, segundo Pfeiffer, a espionagem do candidato do SPD por um detetive particular, uma denúncia anônima de sonegação fiscal e uma ligação falsa de um médico que diria a Engholm que ele estaria com aids.
As etapas do escândalo:
13 de setembro:
- Após a publicação da reportagem pela revista, a União Democrata Cristã (CDU), partido de Barschel, perde a maioria absoluta nas eleições estaduais.
18 de setembro:
- Numa entrevista coletiva de quatro horas de duração, Barschel apresenta depoimentos de sua inocência, prestados sob juramento por oito de seus colaboradores mais próximos.
25 de setembro:
- A pressão dentro do próprio partido cresce e Barschel anuncia a renúncia para 2 de outubro.
6 de outubro:
- Visivelmente afetado pelo escândalo, Barschel viaja para as Ilhas Canárias.
9 de outubro:
- Seu partido exige que renuncie também ao mandato de deputado estadual. Barschel se declara decepcionado com o partido e anuncia seu retorno à capital Kiel.
10 de outubro:
- No retorno, Barschel passa por Genebra, onde alega pretender encontrar um informante, que lhe daria as provas de que tudo teria sido uma conspiração.
11 de outubro:
- Por volta do meio-dia, o corpo é encontrado por um repórter da revista Stern. A foto do morto, vestido, na banheira com água, corre o mundo. Exames toxicológicos apontam para um eventual suicídio por medicamentos.
8 de maio de 1988:
- A oposição social-democrata vence as eleições e Björn Engholm torna-se governador. Mais tarde, se tornaria presidente do Partido Social Democrata e candidato à chancelaria federal alemã.
1º de março de 1993:
- O secretário estadual Günther Jansen admite ter dado 40 mil marcos a Reiner Pfeiffer e é forçado a renunciar três semanas depois.
3 de maio:
- Björn Engholm renuncia a todos os seus cargos, após admitir que já sabia há mais tempo das atividades de Pfeiffer.
21 de dezembro de 1994:
- A Promotoria Pública da cidade de Lübeck abre inquérito para investigar a suspeita de assassinato de Barschel.
23 de outubro de 1995:
- Uma comissão de inquérito da Assembléia Estadual em Kiel apresenta seu relatório sobre o caso, inocentando Barschel de ter inciado qualquer campanha de difamação contra Engholm.
2 de junho de 1998:
- A Promotoria de Lübeck suspende suas investigações sobre o caso, sem ter chegado a uma conclusão.
30 de abril de 1999:
- Também a Promotoria Pública de Genebra encerra seu inquérito.
Durante os 12 anos de investigações, surgiram as mais variadas teorias sobre a morte do ex-governador. Nada foi comprovado, seja a hipótese de envenenamento pelo Mossad, o serviço secreto israelense, seja a participação da CIA no caso.
Especulou-se também sobre o envolvimento de Barschel em negócios ilegais com armamentos ou ainda eventuais contatos com o serviço de espionagem da antiga Alemanha Oriental. Mas até hoje nada foi esclarecido e não se sabe ao certo o que aconteceu no hotel em Genebra.