1990: Primeiras eleições livres na Romênia
Publicado 20 de maio de 2016Última atualização 20 de maio de 2021A eleição foi realizada num clima extremamente emocional. A campanha eleitoral, que entrou na sua fase decisiva poucos meses após a derrubada e execução do ditador Nicolae Ceausescu, em dezembro de 1989, esquentou não só por causa de insultos verbais, como também por causa de agressões físicas.
Os três partidos que apresentaram candidatos ao pleito – a Frente de Salvação Nacional (FSN), o Partido Nacional Liberal e o Partido Camponês – não tiveram muito tempo para conquistar a simpatia dos eleitores. A FSN, liderada por Ion Illiescu, presidente interino do país desde fins de 1989, teve no mínimo duas vantagens em relação às outras legendas, como explica o escritor e jornalista romeno Keno Verseck.
"A maioria dos observadores – e esta também é a minha impressão – dizem que a data das eleições foi precoce demais. Há que se considerar que, durante a ditadura de Ceausescu, de 1965 a 1989, praticamente não houve espaço para nada, nem para o mínimo de oposição admitida em outros países europeus. Não existia uma oposição organizada. Existiam pequenos partidos oposicionistas, mas para eles o prazo das eleições era demasiado curto. A FSN, por sua vez, se organizara como órgão dirigente provisório do país e, ao mesmo tempo, apresentou candidato próprio às eleições. Por isso, ela desfrutou de duas vantagens: definiu o calendário eleitoral e era o partido que comandava provisoriamente a máquina do Estado."
Já antes do pleito se via que a oposição não teria qualquer chance. Principalmente o Partido Camponês ignorou em sua campanha anticomunista o fato de que muitos eleitores eram ex-filiados do antigo Partido Comunista e, de alguma forma, se haviam arranjado com o sistema, dependendo ainda materialmente das estruturas econômicas e administrativas criadas pelo regime socialista.
Votação sob observação do exterior
O sistema eleitoral forneceu argumentos para a oposição alimentar um forte temor de manipulação do pleito. Os 16,8 milhões de eleitores tinham de optar entre 82 partidos e organizações, numa cédula eleitoral de 24 páginas. O voto era dado na forma de um carimbo no quadradinho ao lado do partido ou do candidato escolhido. O carimbo fora do quadradinho invalidava o voto.
Diante das denúncias da oposição de amplas fraudes por parte da frente interina de governo, cerca de 600 observadores estrangeiros foram enviados à Romênia. Eles garantiram que as primeiras eleições parlamentares e presidenciais livres, depois de 53 anos de ditadura, transcorreram de forma relativamente legal.
Como era previsível, o presidente interino, Ion Illiescu, venceu com 86% dos votos válidos. O resultado não surpreendeu. "Era evidente que a FSN obteria a maioria absoluta e Illiescu, mais do que uma maioria de dois terços", diz Verseck.
O jornal oposicionista Romana Libera escreveu, à época, que o resultado eleitoral era a expressão do atual nível político da Romênia, que deveria ser reconhecido e aceitado. Era o resultado de decisões individuais de pessoas cuja mentalidade e comportamento foram profundamente influenciados pela ditadura Ceausescu. A FSN venceu, mas a possibilidade, pela primeira vez depois de muitas décadas, de controlar o poder do partido governante através de uma forte oposição no Parlamento não foi aproveitada.
Continuidade moderada
E quais eram as expectativas dos eleitores? Para Verseck, os eleitores esperavam uma continuidade moderada. "É assim que eu caracterizaria o partido de Illiescu, à época chamado Frente de Salvação Nacional. É um partido da continuidade moderada. Não fez grandes mudanças, como criar estruturas democráticas. Era o que muitas pessoas esperavam e é isso que aconteceu."
Em seu primeiro mandato, Ion Illiescu exerceu a presidência da Romênia de 1989 a 1996. Através de uma nova Constituição, referendada em dezembro de 1991, foi instituído o pluripartidarismo no país, garantidos os direitos humanos e estabelecidas as bases para a economia de mercado. Depois de ter sido sucedido em 1996 por Emil Constantinescu, da Convenção Democrática da Romênia, Illiescu foi reeleito para outro mandato presidencial de quatro anos nas eleições de dezembro de 2000.