A ambigüidade na arte
24 de fevereiro de 2003Um labirinto de ilusões ou um desafio à percepção. Nas diversas obras expostas, há no mínimo duas "realidades" a serem identificadas. O visitante é desafiado a "virar a cabeça", mudar de posição, abandonar a perspectiva central. Os trabalhos vão de iconografias da Índia, passando por 40 obras assinadas por Dalí (o principal expoente na mostra) e pela fotografia de Man Ray, até as criações do artista suíço André Thomkins ou do alemão Sigmar Polke.
Crítico-paranóico -
O título da exposição - O Enigma Infinito - recorre à obra de Salvador Dalí de mesmo nome, datada de 1938. Tendo como fio condutor o "método crítico-paranóico" criado pelo surrealista espanhol, a exposição também intitulada Dalí e a Magia da Ambigüidade traça um panorama do "engodo" do ano de 1081 até os dias de hoje. Trata-se aqui da técnica da imagem dupla, cuja percepção varia de acordo com a perspectiva do observador.Partindo do clássico Cisnes Espelham Elefantes, também de Dalí, a curadoria inicia uma verdadeira viagem às obras de "significados múltiplos" presentes na história da arte. Entre os exemplos de recursos utilizados está a utilização do enigma como forma de sublimar o erótico, visto por exemplo na representação de caveiras montadas com corpos femininos.
Alegorias maneiristas -
Retomando entre outros o trabalho do maneirista Giuseppe Arcimboldo - uma espécie de precursor da técnica - são expostos 350 trabalhos "duplos". Arcimboldo (redescoberto pelos surrealistas) criou em fins do século 16 imagens de frutas, flores e animais, como alegorias de rostos humanos.O primeiro pavilhão da mostra é dedicado à arte dos "borrões", formas assimétricas dispostas pelo princípio do acaso, possibilitando assim uma série infindável de interpretações. O recurso foi utilizado propositalmente pelos surrealistas, que buscavam a oscilação do significado, como uma forma de romper com quaisquer amarras da lógica convencional.