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A ascensão global do terrorismo

Anne Allmeling (pv)2 de janeiro de 2016

Estados falidos viram terreno fértil para extremistas, que mataram 80% mais em 2015 do que em 2014. Maioria dos mortos está em países como Nigéria e Síria, em ataques que acabam ofuscados pelos ocorridos no Ocidente.

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Foto: picture-alliance/Zuma Press

"Ao menos 11 mortos em ataque suicida no norte da Nigéria"; "Vários mortos em ataques em Camarões"; "Duas explosões em Kano, a capital econômica nigeriana" – notícias como essas são publicadas quase diariamente. Mas devido a atentados maiores, como os de Paris, rapidamente perdem importância – quando não são ignoradas por completo na imprensa.

Os inúmeros ataques menores reforçam a proporção que o terrorismo atingiu em 2015. "Atualmente temos uma enorme amplitude do terror", diz o especialista em terrorismo do instituto alemão IFTUS, Rolf Tophoven. "Do Sudeste Asiático, passando pelo Oriente Médio e o norte da África, até o centro da Europa, na França e na Bélgica."

O número de vítimas do terrorismo disparou mundo afora. Conforme pesquisa do Instituto para Economia e Paz (IEP), de Sydney, mais de 32.650 pessoas morreram em 2014 devido a ataques terroristas. O dado representa um aumento de 80% em relação ao ano anterior.

Os países mais afetados por atos terroristas são Afeganistão, Iraque, Nigéria, Paquistão e Síria. O IEP classifica o termo "terror" como a "ameaça ou uso de violência ilegal por um agressor não estatal que visa alcançar um objetivo político, econômico, religioso ou social por meio de medo, coerção ou intimidação".

As estatísticas do instituto mostram o maior aumento de vítimas do terrorismo já medido. Somente as organizações extremistas "Estado Islâmico" (EI) e Boko Haram são responsáveis por mais da metade das vítimas.

Dschihad-Kämpfer im Irak
Imagem de propaganda do EI: a organização terrorista está conectada internacionalmenteFoto: picture-alliance/AP Photo

Nos últimos meses, os jihadistas do EI conquistaram o controle de um terço do Iraque e ocuparam cerca de metade da Síria. Seu objetivo: derrubar os governos da região, estabelecer um Estado em que vigore a sharia, combater os Estados Unidos e "libertar Jerusalém". E para alcançar suas metas, quaisquer meios parecem ser justificáveis.

Aumento da rede de apoio ao EI

Também o Boko Haram ("educação ocidental é pecado", nas línguas faladas no norte nigeriano) visa criar um Estado islâmico. Além de agir principalmente na Nigéria, a organização terrorista africana também comete atentados nos países vizinhos Camarões e Chade e já matou milhares de pessoas nos últimos anos.

O Boko Haram surgiu em 2002 em Maiduguri, a capital do estado de Borno, localizado no predominantemente muçulmano norte da Nigéria. Em março de 2015, jurou lealdade ao EI – assim como outros grupos extremistas no Sinai e na Líbia.

Atualmente, o EI é considerado a organização terrorista mais perigosa do mundo. De muitas formas, ele se assemelha à Al Qaeda. Mas segue uma estratégia diferente. Combatentes do EI matam qualquer pessoa que estiver no caminho, até mesmo muçulmanos que seguem outras vertentes do islã. Violência sem medida, em particular contra xiitas, faz parte do plano dos extremistas sunitas.

Organização terrorista mais perigosa

Por onde o "Estado Islâmico" passa, terra arrasada é deixada para trás. Terroristas do EI perpetram massacres contra a população, escravizam mulheres, assassinam crianças, destroem relíquias históricas. Sua brutalidade é eternizada em gravações de vídeo, que também são usadas para recrutar novos jihadistas.

De todo o mundo, novos combatentes – e outros que desejam se tornar combatentes – seguem viagem à Síria e ao Iraque para se juntar à milícia jihadista. Isso porque o "Estado Islâmico" está conectado internacionalmente através da internet e opera cada vez mais no exterior. Só neste ano, a organização terrorista reivindicou a autoria de ataques em Tunísia, Turquia, Líbia e Paris.

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Cena de um atentado do Boko Haram na Nigéria. Para grupo jihadista, "educação ocidental é pecado"Foto: Getty Images/AFP/Stringer

Mas a Al Qaeda não deixou de ser uma grande ameaça, garante o especialista em terrorismo Tophoven: "A concorrência do EI, para formular desta forma, é a velha Al Qaeda, cujas células sobreviventes ainda remetem aos tempos de Osama bin Laden. Mas atualmente seus impactos estão claramente sendo superados pelo chamado 'Estado Islâmico'."

Semelhança na brutalidade é ostentada pela milícia Al Shabaab. Ela espalha medo e terror na Somália e também perpetra ataques em países vizinhos como o Quênia. Há anos, os extremistas sunitas lutam por um chamado Califado no Chifre da África.

Estados falidos como terreno fértil

Para Tophoven, os chamados Estados falidos são a razão para o aumento da ameaça terrorista. "Há um monte deles: países da África Oriental como a Somália, a Nigéria; o colapso da chamada Primavera Árabe", diz o especialista. "É a anarquia e o caos em muitos Estados que oferecem um solo fértil para o recrutamento e a doutrinação de muitos combatentes muçulmanos."

Segundo o especialista, não existe uma "fórmula mágica" para combater o terrorismo global – na melhor das hipóteses abordagens que devem vir da própria sociedade, como, por exemplo, programas de reintegração para dissidentes de organizações extremistas.

Em relação à Síria, porém, Tophoven defende o combate ao EI com tropas terrestres. "Somente a combinação de ataques aéreos e tropas terrestres será uma abordagem eficiente para evitar a propagação do EI", afirma. Mas, segundo ele, pacificar politicamente o conflito sírio já aumentaria as chances de conter o crescimento do "Estado Islâmico".