A crise da Ucrânia e os limites da diplomacia
11 de fevereiro de 2022"Enquanto os líderes estrangeiros estiverem em Kiev para negociações, Putin não poderá lançar uma invasão", dirão ucranianos comuns, um sentimento muitas vezes expresso com o acompanhamento de um sorriso esperançoso.
Certamente a onda sem precedentes de atividade diplomática nas últimas semanas às vezes parece uma tentativa desesperada de, falando-se sobre tudo e qualquer coisa, ganhar tempo na crise em torno da concentração de tropas russas ao longo das fronteiras da Ucrânia – por mais estreitas que sejam as chances de progresso.
No espaço de apenas alguns dias, no começo de fevereiro a capital da Ucrânia recebeu líderes de Reino Unido, Turquia, Polônia e Holanda. Tamanha foi a avalanche de dignitários estrangeiros, que, segundo consta, a visita do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, teria sido adiada em um dia para dar lugar ao premiê britânico, Boris Johnson.
Todos chegaram a Kiev prometendo armas para os militares do país e palavras fortes de advertência para Moscou. Se os presidentes ucranianos costumavam reclamar de pouca atenção a seu país e seu impasse com a Rússia; agora parece o cuidado está até demais.
Mas a posição dos dois países mais influentes da União Europeia, França e Alemanha, tem sido muito menos clara em relação a Moscou. Os líderes ucranianos temem que, no fim das contas, Paris e Berlim se mostrem menos dispostos a apoiá-los do que a fechar um acordo com Moscou, às custas da Ucrânia.
Atritos com a Alemanha
A ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, visitou a Ucrânia pela segunda vez no espaço de um mês, num cenário de crescentes tensões entre Berlim e Kiev, pela recusa alemã tanto de fornecer armas letais à Ucrânia, quanto de impor sanções preventivas ao gasoduto Nord Stream 2 da Rússia.
Pelo menos em público, Baerbock tinha pouco para oferecer a seus anfitriões ucranianos, em termos de novas iniciativas: nenhum roteiro para uma desescalada além do compromisso de levar a Rússia e a Ucrânia de volta à mesa de negociações.
Por que essas conversas agora teriam sucesso, após anos de impasse, ela não conseguiu explicar. Em vez disso, saudou a retomada das negociações técnicas como um sucesso, em si.
"Podem contar conosco"
Com poucos anúncios de políticas concretas, a parte pública de sua visita concentrou-se em destacar o compromisso da Alemanha com a Ucrânia e tentar recuperar a boa vontade perdida.
Em Kiev e em sua visita às linhas de frente na região de Donbass, Baerbock repetidamente afirmou que a Ucrânia pode contar com a Alemanha – embora não tenha dado os detalhes obviamente esperados por seu público ucraniano.
Em vez de esclarecer o que seria necessário para Berlim impor sanções contra o gasoduto Nord Stream 2, Baerbock mencionou sanções "sem precedentes" que a Alemanha imporia à Rússia, em caso de invasão e repetiu que seu país estaria disposto a pagar um "alto preço" em termos de seus próprios laços econômicos com a Rússia.
Essa última afirmação veio em resposta às críticas à política externa alemã nas últimas semanas, acusando o peso-pesado industrial de priorizar os interesses econômicos com a Rússia em detrimento da solidariedade com a Ucrânia.
As expectativas em Kiev eram particularmente altas, já que, nos últimos anos, o Partido Verde de Baerbock tem sido mais crítico em relação ao projeto do gasoduto Nord Stream 2 e também mais agressivo com a Rússia do que qualquer outra legenda parlamentar.
O que faltava era o assunto mais ansiosamente esperado pelos observadores ucranianos: o pedido renovado de Kiev de um fornecimento de armas letais. A assunto ganhou peso emocional particular depois que a oferta de 5 mil capacetes feita pela Alemanha foi amplamente ridicularizada na Ucrânia.
Baerbock evitou a questão, não fazendo nenhuma tentativa de reafirmar a posição do governo alemão sobre o envio de armas a zonas de conflito. Em vez disso, visitou um hospital militar de Kiev que recebeu amplo financiamento alemão, num aceno à oferta da Alemanha de fornecer mais assistência médica aos militares da Ucrânia, no lugar de armas.
O mal-entendido de Macron
O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a Kiev no dia seguinte da sua visita a Moscou. Os líderes francês e russo levaram mensagens muito diferentes de sua maratona de reuniões bilaterais: Macron foi-se de Moscou aparentemente confiante de ter obtido uma promessa básica de Vladimir Putin de não enviar tropas adicionais às fronteiras da Ucrânia, não lançar uma intervenção militar e de retirar as forças russas de Belarus após o término dos exercícios militares naquele país.
Isso foi então desmentido publicamente por um porta-voz do Kremlin. Nenhum compromisso desse tipo foi assumido, e qualquer acordo futuro só seria feito com os Estados Unidos. A conclusão forçosa é que mesmo a França – o único país da União Europeia com armas nucleares – não está, nem de longe, à altura da Rússia.
Como Baerbock antes dele, o único avanço tangível que Macron conseguiu citar foi a disposição da Rússia de retornar às negociações sobre o conflito no Donbass no assim chamado "formato Normandia", sob mediação franco-alemã.
Ucrânia teme concessões dolorosas
Da perspectiva de Kiev, parece não existir uma solução para a crise que seja aceitável tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia. Ou os russos serão convencidos a recuar pela ameaça de sanções maciças, com risco considerável para a credibilidade de Vladimir Putin, ou a Ucrânia será pressionada a cumprir as exigências de, Moscou, sob risco de uma enorme reação interna.
Por enquanto, nenhum dos lados parece disposto a um acordo. Mas muitos em Kiev estão convencidos de que, mais cedo ou mais tarde, os países ocidentais aumentarão a pressão sobre a Ucrânia.