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A delicada relação da Europa com o liberalismo

(fs)4 de outubro de 2005

Greve na França confirma o que a eleição alemã já havia sinalizado: a população européia quer a redução do desemprego, mas não está preparada para abrir mão de direitos sociais.

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Trens parados: 'não' a medidas liberaisFoto: picture-alliance / dpa/dpaweb

Uma greve geral na França, promovida por sindicatos, parou parte do transporte público de Paris, causou o atraso de vôos e trens domésticos e chegou até os trabalhadores de usinas de energia, que ameaçaram reduzir a geração de eletricidade nesta terça-feira (04/10). Milhares de pessoas faltaram ao trabalho em conseqüência do protesto que afetou a capital francesa e outras 140 cidades do país.

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Villepin, o primeiro-ministro, e Chirac, o presidente: desafiosFoto: AP

As causas do movimento são a taxa de desemprego no país – em torno de 10%, considerada alta para os padrões europeus – e o projeto do primeiro-ministro francês Dominique de Villepin de reduzir encargos trabalhistas para aumentar contratações, especialmente nas pequenas empresas.

Os protestos, apesar de promovidos por sindicatos, não refletem o estado de espírito de um grupo específico de cidadãos. De acordo com pesquisas, 75% da população francesa considera a greve geral uma boa forma de demonstrar insatisfação com as políticas de emprego de Villepin.

Uma estranha relação

O movimento francês mostra a esquizofrênica relação dos europeus com o liberalismo. Ao mesmo tempo em que reclama do aumento do desemprego, a população não parece preparada para abrir mão de benefícios sociais que, segundo boa parte da classe política, impedem que mais postos de trabalho sejam abertos.

O medo da reação popular faz políticos se distanciarem o máximo possível do rótulo de liberais: no discurso de posse, há quatro meses, Villepin disse que a "globalização não é nenhum ideal, e não deve ser o destino [francês]".

Aktionstag: Opel Arbeiter demonstrieren vor dem Werk in Rüsselsheim, Plakat: Streik Hilft
Greve na Opel: desemprego à espreitaFoto: AP

Ao tomar o poder, entretanto, ele resolveu mexer no vespeiro dos direitos trabalhistas, causando a ira dos sindicatos e a convocação da greve geral desta terça-feira. Com o objetivo de diminuir o desemprego, ele estabeleceu um novo contrato de trabalho em que as empresas têm mais liberdade para contratar e demitir trabalhadores.

O protesto pode ser um golpe na popularidade de Dominique de Villepin, que havia crescido após a posse. E há outro agravante: a exemplo do que ocorre em outros países europeus, a economia francesa cresce a passos pequenos. Economistas duvidam que as projeções de crescimento do PIB francês para o ano que vem, de magros 2,26%, sejam atingidas.

Dúvidas na Alemanha

Assim como os franceses, os alemães também não parecem estar preparados para aceitar políticas liberais. Pelo menos essa é a opinião de diversos analistas sobre o resultado da eleição na Alemanha, realizada em 18 de setembro. Ao contrário do que se esperava, a candidata da aliança CDU-CSU, Angela Merkel, não conseguiu a maioria no Parlamento com sua política de cortar direitos trabalhistas para gerar empregos.

Angela Merkel und Gerhard Schröder
Personagens da indecisão: Merkel e SchröderFoto: AP

Neste cenário indefinido, reemergiu a figura do chanceler federal Gerhard Schröder, que muitos davam por politicamente morta, e o SPD dividiu os votos dos alemães com a coalizão de Merkel. Foi o sinal de que boa parte da população alemã não está preparada para trocar a tradicional rede de proteção social do país por uma (provável) maior oferta de trabalho.

Outro obstáculo para o estabelecimento de uma política neoliberal baseada no modelo norte-americano é o inevitável aumento da competitividade no mercado de trabalho. Afinal, tanto na França quanto Alemanha ainda reina a noção do "emprego para toda a vida".