A destruição de Palmira como lição para humanidade
26 de fevereiro de 2016A organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) escolheu um lugar simbólico para uma execução em massa: no dia 27 de maio de 2015, matou 25 sírios uniformizados nas ruínas do antigo anfiteatro de Palmira.
Através de um vídeo divulgado na internet, a opinião pública mundial pôde acompanhar posteriormente a pérfida ação. Horst Bredekamp escreveu, no catálogo da exposição Palmyra – Was bleibt? (Palmira – O que resta?), no Museu Wallraf Richartz em Colônia, que a execução foi o início de uma iconoclastia "encenado como prelúdio da destruição de obras de arte".
Foram destruídos os templos de Bel e Baalshamin, erguidos há 2 mil anos, e um arco do triunfo construído por volta do ano 200. Usando imagens de satélite, as Nações Unidas confirmaram a explosão do Patrimônio Cultural da Humanidade Palmira. Em sua sede de vandalismo, os extremistas mataram também o arqueólogo Khaled al-Assad, que dedicou toda a sua vida à pesquisa da cidade histórica.
Já existem iniciativas lideradas pelo diretor da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano em Berlim, Helmut Parzinger, de reerguer um dia a antiga cidade síria.
"Fúria de vandalismo"
Uma lembrança da antiga cidade são os 40 desenhos do historiador da arquitetura francês Louis-François Cassas, que viajou para o Oriente entre 1784 e 1787 com vista a retratar a "rainha do deserto": coluna por coluna, templo por templo. Segundo o curador Thomas ketelsen, com essa homenagem ao passado glorioso da cidade oásis, o Museu Wallraf Richartz quer enviar um "forte sinal cultural" e expressar sua solidariedade.
Os desenhos arquitetônicos vêm do acervo do museu coloniano. Eles foram adquiridos já no início do século 20 e foram restaurados agora – com o apoio de uma fundação particular – especialmente para a exposição.
Jean-François Cassas não foi o primeiro a documentar as antigas edificações de Palmira. Mas ele foi o primeiro a abordar os levantamentos com uma meticulosidade analítica notável. Diferentemente de seus predecessores, ele não destacou excessivamente a estética das ruínas. Em vez disso, ele as pesquisou e as ordenou.
Cassas atuou como um "artista que vê através das lentes da arquitetura", afirma Ketelsen. Ele reconheceu a peculiaridade da coexistência de diferentes épocas culturais, a sua "amalgamação": não somente o legado helênico, mas também estilos romanos e islâmicos se encontram sobrepostos na cidade oásis com suas avenidas ladeadas de colunas, suas termas e detalhes ornamentais. Segundo o curador, foi justamente essa mescla pacífica de estilos que o EI destruiu em sua "fúria de vandalismo".
"Arquitetura imaginada"
Em 1785, Cassas desenhou todos os monumentos históricos do local em somente 34 dias: primeiro, eles levantou as plantas baixas, para depois se dedicar aos detalhes. O mais notável: o historiador francês apreendia o mundo das ruínas e depois as completava com sua imaginação. Pois ele diferenciava entre o visto e o imaginado. Ele deixou clara essa diferença em seus desenhos por meio de uma marcação de cor.
Com esse método da "arquitetura imaginada", o historiador da arquitetura, cuja missão foi financiada pela embaixada francesa em Constantinopla, anunciou um ponto de virada na pesquisa arquitetônica.
Por trás de sua expedição, estava o projeto de uma publicação de gravuras sobre Palmira, o que ele conseguiu apenas parcialmente. No final, a edição continha somente 180 dos 330 trabalhos.
Já em vida, Cassas recebeu reconhecimento por sua obra: ninguém menos que Johann Wolfgang von Goethe, que visitou o francês em setembro de 1797 durante sua viagem à Itália, ficou fascinado e veio chamá-lo mais tarde de "meu professor". Goethe admirava Cassas por sua reconstrução precisa e rigorosamente estética da Antiguidade Tardia. O autor alemão admirava principalmente a fantasia com a qual Cassas catapultava os edifícios de volta à sua condição original.
Hoje, são esses desenhos cheios de amor ao detalhe os últimos testemunhos do rico passado de Palmira.