A esquerda européia recauchutada
1 de maio de 2006"Os tempos estão difíceis: a dignidade humana tornou-se vulnerável outra vez", protesta Michael Sommer, presidente da Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB). Para este Dia do Trabalho, a união sindical organizou eventos em todo o país sob o mote "sua dignidade é nossa medida".
As tradicionais manifestações sindicais na Alemanha se voltam contra "condições cada vez mais indignas de vida e trabalho". Neste ano, o centro das atividades é Wolfsburg, sede da Volkswagen, mas há protestos previstos em praticamente todos os Estados alemães.
Demandas sindicais contra globalização
Sommer critica os efeitos negativos da globalização sobre a economia alemã, que teria feito com que o fato de estar empregado já não signifique uma garantia contra a pobreza. Ele citou estatísticas recentes, segundo as quais mais de 30% dos alemães sobrevivem apenas através de ajuda familiar.
Em resposta, a DGB pleiteia a instauração de um salário mínimo de 7,5 euros por hora, enquanto aconselha o país a não afrouxar as leis de proteção aos direitos do trabalhador — medida que considera contraproducente, uma vez que levaria pessoas com emprego estável a poupar em vez de consumir.
Para Sommer, o governo tampouco deveria elevar a idade mínima de aposentadoria de 65 para 67 anos, o que constituiria apenas uma medida dissimulada de reduzir a remuneração, já que a idade real de afastamento gira em torno dos 60 anos.
Intensidade dos protestos diminui
Enquanto isso, as tradicionais manifestações de 1º de maio em Berlim vêm perdendo força. Segunda a polícia da capital, nos últimos anos o nível de participação vem baixando progressivamente, graças à ação reforçada da polícia, que recruta oficiais de diversos Estados do país especialmente para a ocasião, e a diversas iniciativas civis.
De acordo com a polícia, os responsáveis por trás dos protestos são jovens desprovidos de qualquer intenção política, cuja única finalidade é gerar tumulto. Por isso, a polícia reduziu em 600 o total de policiais recrutados em 2006 em relação ao ano passado, sendo que todos eles são treinados para agir com moderação.
Uma nova esquerda?
Mas o Dia do Trabalho é, além disso, a oportunidade ideal para se repensar o papel da esquerda para as novas gerações e seu futuro no cenário político europeu. Aproveitando a ocasião, jovens estudantes, convidados pelo Partido de Esquerda alemão (ex-PDS), se puseram a caminho da Alemanha para debater as semelhanças e diferenças da esquerda em seus países de origem.
"Discutimos se existe ou não uma nova esquerda na Europa", conta a britânica Suzie Wylie, membro do partido inglês de esquerda Respect, fundado em 2004 durante os protestos contra a guerra no Iraque. E constataram: a nova esquerda não só existe como está em avanço. "Mas notamos que há diferenças: na Itália e na França, por exemplo, partidos comunistas são instituições estabelecidas, enquanto na Grã-Bretanha, não."
Wylie não considera o Respect um partido de esquerda no sentido clássico e lembra que a luta pela paz ainda é sua maior prioridade. Já o italiano Antonello Zecco e o francês Kamel Brahmi não têm problema algum em aceitar a designação: eles são membros, respectivamente, do Rifondazione Comunista e do Parti Communiste.
No entanto, admitem que a identificação com regimes e partidos comunistas no passado e no presente continua sendo problemática: para jovens ativistas, partidos social-democratas como o SPD alemão ou o Labour inglês já não mais pertencem ao espectro político da esquerda.
Frente anti-neoliberal
Por outro lado, a fronteira entre esquerda e extrema-esquerda diminui na França, conta Brahmi. Segundo ele, a vitória do "não" contra a Constituição Européia em 2005 foi um resultado da união das forças de esquerda, assim como a recente suspensão da lei do Contrato de Primeiro Emprego (CPE). "Foram o trabalho de comunistas, socialistas, trotzkistas e verdes, críticos da globalização e sindicalistas", disse.
Para as próximas eleições francesas em 2007, Brahmi sugere a nomeação de um candidato único. Segundo o professor de Ciência Políticas Elmar Altvater, da Universidade Livre de Berlim, isso é perfeitamente possível. "A separação entre movimentos extraparlamentares de esquerda e facções parlamentares foi praticamente suspensa em toda a Europa. A Attac e os sindicatos aproximaram-se dos partidos políticos", explica.
No entanto, ele alerta que não está havendo necessariamente um deslocamento para a esquerda na Europa. "Há antes uma cooperação da esquerda para além de fronteiras nacionais", argumenta. Uma das causas seria a crescente habilidade lingüística dos estudantes europeus.