"A guerra parece estar apenas começando"
10 de abril de 2004Explosões em Bagdá, novos seqüestros de estrangeiros, combates em várias cidades e a confissão do ministro britânico do Exterior, Jack Straw, de que nunca a situação esteve tão difícil no Iraque, marcaram o primeiro aniversário do fim oficial da guerra que deu fim ao regime de Saddam Hussein. Em 9 de abril de 2003, soldados americanos e populares iraquianos derrubaram simbolicamente uma das maiores estátuas do ditador em Bagdá.
"A válvula não agüentou a pressão", admitiu Straw em entrevista nesta Sexta-Feira Santa (9/4), enquanto a agência Reuters registrava o seqüestro de mais seis estrangeiros, dois americanos e quatro italianos. Com isto o total de civis estrangeiros capturados por rebeldes subiu para 20, sendo que sete sul-coreanos já foram soltos. A conta confere, segundo novo vídeo divulgado neste sábado (10/4) pelos rebeldes, que falam em 13 capturados. No entanto, nenhum seria italiano.
Alemães são atacados e desaparecem
Em Berlim, o Ministério do Exterior confirmou que dois agentes alemães estão desaparecidos desde quarta-feira. Ambos pertenceriam à unidade especial GSG-9 e estavam sendo transferidos da capital da Jordânia, Amman, para a iraquiana. As viagens entre as capitais dos dois países são rotina para revezamento da segurança na embaixada de Bagdá.
Próximo a Falluja, onde sunitas e tropas americanas estão em combate, o comboio teria sido atacado. Desde então não se viu mais dos dois policiais alemães. Outros veículos do comboio teriam chegado ao destino.
Falta sensibilidade, não soldados
O cenário é "muito mais dramático do que o esperado", afirma o general alemão Klaus Reinhardt. Para o ex-comandante das tropas internacionais no Kosovo, os EUA estão "em situação extremamente difícil". Reprimir, o que só provoca mais violência, e trazer mais soldados "não ajuda", acrescenta Reinhardt.
Especialista em Oriente Médio na Deutsche Welle, o redator Peter Phillip analisa de forma similar. "A falta de sensibilidade por parte da coalizão leva cada vez mais iraquianos a entrar para o exército que claramente a enfrenta, como o dos seguidores do líder xiita Moqtada al-Sadr, tão jovem quanto radical. Um ano após o fim da guerra no Iraque, ela parece estar apenas começando", comenta Phillip.
Paralelo com Palestina
Além disso, com características de guerrilha urbana, contra "um inimigo invisível, escondido na população civil e em mesquitas". Um tipo de conflito para o qual Washington não tem receita de solução, assim como Israel na Palestina. "O poder militar não pode resolver este problema", considera o redator da DW.
Para Phillip, o presidente americano George W. Bush está num beco sem saída. Desistir e perder a reeleição até seria "o mal menor". O Iraque, porém, ficaria condenado ao caos e se poderia esquecer "a transição para um Estado livre e de direito", o que "seria trágico, pois os iraquianos, depois de décadas de ditadura e sangrenta opressão, merecem algo melhor".
"Não se tornar colônia dos EUA, mas criar finalmente as bases para um Estado justo para todos seus cidadãos. E este eles não terão através de al-Sadr, pois este deseja uma república islâmica, tal como não se quer mais nem no Irã", observa Phillip.
Alemães pelo fim da ocupação
A opinião pública alemã pensa diferente. O Instituto Forsa apurou que 53% dos alemães são pela retirada imediata das tropas de ocupação do Iraque; 40% apóiam sua permanência. Atualmente, segundo os EUA, existem no país do Golfo Pérsico 145 soldados aliados, dos quais 125 mil americanos.
Se os militares estrangeiros dificilmente deixarão de enfrentar a resistência sunita e xiita, o mesmo não se pode esperar das entidades civis de ajuda humanitária. "Não podemos mais descartar que a maior parte das organizações alemãs irá se retirar por completo do Iraque, temporariamente, devido à espiral de violência", anunciou Hartmut Wilfert, da Ação Alemanha Ajuda, em Colônia.