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A indústria alemã e a Segunda Guerra Mundial

Michael Marek / lk27 de janeiro de 2005

A economia alemã floresceu na época do nazismo especialmente graças aos trabalhadores forçados. A discussão política sobre sua indenização arrastou-se por décadas.

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Execução de trabalhadores forçados em Colônia, 1944Foto: Palladio Film / Köln

Faz cinco anos que se criou a Fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro, a qual regulamentou definitivamente a polêmica questão da indenização de pessoas forçadas ao trabalho durante o regime nazista. Seu financiamento cabe meio a meio ao governo federal e a uma iniciativa de empresas alemãs. Vivem hoje ainda cerca de 1,7 milhão de ex-trabalhadores forçados, com o direito de receber uma quantia de até 7600 euros. Até meados deste ano, os pagamentos devem estar concluídos, perfazendo quase 2 milhões de beneficiados.

Em fins da década de 90, trabalhadores forçados sobreviventes da ditadura nazista apresentaram nos Estados Unidos uma demanda conjunta contra grandes empresas alemãs, entre as quais a BMW, a Daimler-Benz, o Deutsche Bank, a Siemens e a Volkswagen. Todas elas tinham desempenhado um papel importante no abuso organizado da força de trabalho dos judeus, segundo Edward Fagan, advogado nova-iorquino dos demandantes.

As empresas alemãs viram-se então confrontadas com demandas milionárias, além da perda de credibilidade e imagem. Durante décadas, elas tinha se oposto com sucesso ao pagamento de indenizações aos sobreviventes, alegando ter sido obrigadas a recorrer ao trabalho escravo. Em sua opinião, somente o Estado alemão é que deveria se encarregar das indenizações.

Indústria foi beneficiada

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Documento de identificação de trabalhador forçadoFoto: AP

No entanto, segundo o historiador Dietrich Eichholz, foram muitas as companhias alemãs que se beneficiaram com o trabalho forçado. Ao final da guerra, o patrimônio da indústria alemã era 17 vezes maior do que em 1939. O regime nacional-socialista havia perdido a guerra, mas a indústria se beneficiara com ela. Os internados em campos de concentração e os prisioneiros de guerra obrigados a trabalhar não eram remunerados, os que vinha da Polônia e da União Soviética recebiam pagamentos mínimos e os de outras nações ocidentais quase o mesmo que os trabalhadores alemães.

Esquecer, recalcar, delongar – este era o lema de muitas firmas alemãs após o fim da guerra, quando se tratava das reivindicações de antigos trabalhadores forçados. Poucas das centenas de empresas que se aproveitaram dessa mão-de-obra estavam dispostas a compensar os salários mal pagos e os danos à saúde.

Ao todo, durante a Segunda Guerra Mundial foram trazidos das regiões ocupadas para a Alemanha 12 milhões de trabalhadores forçados. Já em 1939 a indústria alemã registrava a falta de 1,2 milhão de trabalhadores, convocados para o serviço militar. Para poder compensar esse déficit, a indústria passou a exigir a disponibilização de nova força de trabalho para manter a produção em funcionamento.

Segundo o professor de História Ulrich Herbert, da Universidade de Freiburg, não foi a ditadura nazista e sim firmas como a Blohm und Voss, a Schering, a Deutsche Reichsbahn, a Thyssen e a Mannesmann que, por si próprias, obrigaram os prisioneiros a trabalhar em condições desumanas.

Acordo tardio

Já em 1986, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução exortando a indústria alemã a indenizar antigos escravos do nazismo. Mas foi preciso que se começasse a abrir os arquivos, aumentando a pressão pública, para que as empresas se dispusessem a ceder. E, desde que bancos suíços e organizações judaicas entraram em acordo nos Estados Unidos, em meados da década de 90, as firmas alemãs que até então recusavam responsabilidade começaram a tombar como pedras de dominó. Allianz, Degussa, Deutsche Bank, Dresdner Bank passaram a compensar os trabalhos prestados à força durante o nazismo. A Volkswagen e a Siemens decidiram instituir um fundo para prestar apoio individual aos sobreviventes.

Em 1999, após negociações emperradas, chegou-se finalmente a um acordo. De um lado, encontravam-se o governo e representantes da indústria alemã; do outro, associações de vítimas o nazismo do Leste e do Centro da Europa, bem como dos Estados Unidos. Um ano mais tarde, criou-se a fundação Lembrança, Responsabilidade e Futuro, dotada com 5 bilhões de euros, uma soma simbólica, se comparada com os 50 bilhões de euros que a República Federal da Alemanha pagou a título de indenização a sobreviventes do Holocausto desde 1945.

Até hoje aderiram à fundação mais de 6500 empresas alemãs. Cerca de 1,5 milhão de ex-trabalhadores forçados de 80 países foram indenizados, com idades entre 60 e 100 anos, a maioria da Polônia, Ucrânia e Rússia – muitos deles, portanto, eram crianças quando foram obrigados a trabalhar pelos nazistas.