A primeira deputada negra no Parlamento alemão
30 de setembro de 2021O Parlamento alemão terá sua primeira deputada negra mulher. Awet Tesfaiesus, do Partido Verde, garantiu uma vaga no Bundestag após as eleições do domingo passado (26/09).
Advogada especializada em Direito de Asilo, Tesfaiesus, de 47 anos, nasceu em Asmara, na Eritreia. Ela chegou à Alemanha aos 4 anos de idade, quando sua família fugiu para o país europeu.
Um dia após a eleição federal, a política verde agradeceu aos eleitores e o apoio recebido durante a campanha. "Ainda não consigo acreditar direito", escreveu ela, que reside na cidade de Kassel, no estado alemão de Hessen, há mais de 20 anos.
A motivação para Tesfaiesus se candidatar ao Bundestag veio após o atentado racista em Hanau, também em Hessen, em fevereiro de 2020. "Precisei me questionar se minha família e eu podemos ter um futuro neste país", diz o currículo da política na página do Partido Verde.
Em entrevista à rede de notícias alemã Redaktionsnetzwerk Deutschland, Tesfaiesus disse que, como deputada, lutará pela igualdade de direitos, por maior diversidade e por uma Lei de Asilo, além de combater racismo e discriminação.
"É preciso criar uma consciência ampla na sociedade, mas também garantir a diversidade em nível municipal e estadual. Palavras bonitas não bastam", afirmou. Ela destaca a importância de se implementar ferramentas que promovam e garantam a diversidade, e não simplesmente esperar que mulheres negras decidam se candidatar.
Tesfaiesus ingressou no Partido Verde em 2009. A partir de 2016, se tornou porta-voz para assuntos de integração e igualdade de direitos da bancada dos verdes na câmara municipal de Kassel.
Ela é a terceira pessoa negra a ingressar no Parlamento alemão. Em 2013, foram eleitos os deputados Karamba Diaby, pelo Partido Social-Democrata (SPD), e Charles M. Huber, pela União Democrata Cristã (CDU), partido conservador da atual chanceler federal Angela Merkel.
Parlamento mais diverso
No complexo sistema eleitoral alemão, os eleitores votam duas vezes: primeiro diretamente num candidato para representar seu distrito eleitoral (são 299 em todo o país), e depois num partido, que por sua vez elabora uma lista de candidatos aos quais serão distribuídos esses votos.
Tesfaiesus não foi eleita diretamente, mas garantiu uma vaga no Bundestag por meio do segundo voto.
Ela integra agora um Parlamento bem mais diverso do que composições anteriores. Dos 735 assentos, ao menos 83 serão ocupados por pessoas oriundas de famílias de migrantes ou de origem estrangeira.
Embora pessoas com histórico de migração ainda tenham muito pouca representatividade em cargos políticos na Alemanha, o número de candidatos tem aumentado nas últimas eleições. Enquanto em 2005 apenas 4,4% dos candidatos eram de origem estrangeira, em 2021 essa porcentagem pulou para 9%.
Contudo, essa tendência positiva não é igualmente evidente entre todos os partidos, observa a cientista política Julia Schulte-Cloos, da Universidade Ludwig Maximilian em Munique, em um artigo publicado na plataforma Mediendienst Integration.
A CDU de Merkel, por exemplo, quase não aumentou sua proporção de candidatos com histórico migratório, que tem ficado em torno de 3,5% a 4% em todas as eleições federais desde 2005.
Além disso, partidos mais à direita, como a própria CDU, o Partido Liberal Democrático (FDP) e a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), têm proporções especialmente baixas de candidatos com raízes em países africanos, muçulmanos ou asiáticos. Seus candidatos com histórico migratório estão mais ligados a países do Sul e do Leste da Europa.
rk/ek (ots, AP)