A proporção de forças na Península da Coreia
10 de maio de 2017A situação na Península da Coreia está tensa. O governo do presidente Donald Trump disse que a política de "paciência estratégica" em relação à Coreia do Norte, seguida pelo antecessor Barack Obama, chegou ao fim. O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou durante visita à Coreia do Sul que a opção militar está em aberto. Em maio, os Estados Unidos impuseram novas e mais severas sanções a Pyongyang.
A China, considerada a única aliada da Coreia do Norte, insiste numa solução diplomática para o conflito, mas também elevou a pressão sobre Pyongyang, suspendendo as importações de carvão da Coreia do Norte, uma importante fonte de divisas para o país. Articulistas do jornal nacionalista Global Times acusam a Coreia do Norte de desestabilizar a península, exortando o país a interromper seu programa nuclear.
Mas a Coreia do Norte parece não se deixar impressionar. O regime já testou cinco mísseis em 2017, violando resoluções da ONU. Especialistas observaram um aumento das atividades em Punggye Ri, área de testes nucleares. Outro teste nuclear pode ser iminente. Em declarações através da mídia estatal, a Coreia do Norte afirmou estar preparada para uma "guerra total" a qualquer momento.
Guerra congelada
Dois dos maiores exércitos do mundo se encontram frente a frente na Península da Coreia desde a Guerra da Coreia – que foi congelada em 1953, com uma trégua, mas nunca terminou oficialmente. Segundo um índice produzido pela organização independente Bonn International Center for Conversion (BICC), a Coreia do Sul está entre as nações mais militarizadas do mundo, ocupando o sexto lugar no ranking mais recente, de 2016. A Coreia do Norte não consta da lista por causa da escassez de informações, mas é presumível que também tenha um elevado grau de militarização. "Isso é óbvio quando pensamos que 1,2 milhão de pessoas servem às Forças Armadas num país de 24 milhões de habitantes", afirma Marius Bales, do BICC.
Por trás das duas Coreias estão seus respectivos aliados, que também são rivais: no lado da Coreia do Norte, a República Popular da China; no lado da Coreia do Sul, os Estados Unidos. A relação da Coreia do Sul com os EUA foi estabelecida em 1953 por uma aliança militar. Em 1961, a Coreia do Norte assinou com a China e a Rússia um tratado de amizade que incluiu ajuda militar e econômica. A Rússia rescindiu o pacto de assistência militar, mas ele continua em vigor com a China. O Japão, que também se sente ameaçado pela Coreia do Norte, tem um papel especial. Embora o país seja aliado próximo dos EUA, seu relacionamento com a Coreia do Sul é afetado pelo passado colonial e pela Segunda Guerra Mundial.
Potencial militar
Uma maneira de descrever o equilíbrio militar na região é elaborar uma lista numérica das respectivas Forças Armadas. No entanto, esse método apresenta algumas dificuldades.
Em primeiro lugar, as estatísticas devem ser consideradas com certo cuidado. A publicação anual Military Balance, do think thank britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), tem um certo monopólio sobre essa informação. Embora existam outras fontes para forças militares, como o Instituto de Estudos da Paz em Estocolmo (Sipri), apenas o Military Balance documenta tão amplamente os armamentos e o setor militar. Os números são baseados, parcialmente, em informações oficiais dos Estados, que os fornecem ao registro de armas da ONU ou à Organização para a Cooperação Internacional (OSCE). Além disso também são considerados relatórios de exportação de armas. No entanto, o IISS não cita todas as fontes nem define um único método. Por isso não é possível saber como são apurados os números de países como a Coreia do Norte, que não publica dados oficiais. Mas não há alternativas, segundo Bales, do BICC, "a Military Balance é a melhor e também a única fonte na área", diz.
"Mas os números representam apenas a quantidade, o que não quer dizer nada sobre a qualidade das armas", pondera Bales. Um tanque soviético T-62 do Exército norte-coreano, modelo do final dos anos 60, e um K2 Black Panther sul-coreano, de 2013, não podem ser comparados. E também a ideia de que é possível dispor soldados contra soldados e tanques contra tanques, como no século 19 ou no início do século 20, é obsoleta. "Os recursos de guerra e os armamentos modernos não permitem mais isso", sublinha o especialista. Tanques enfrentam tanques, mas também drones, helicópteros e aviões.
Os números também não mostram quantos recursos estão disponíveis para utilizar as armas. A Coreia do Norte sofre notoriamente com a falta de combustível, o que pode reduzir os voos de treinamento. "No caso da Coreia do Norte, o tamanho das Forças Armadas contrasta com a sua qualidade. Em especial a Força Aérea está defasada. Os jatos mais modernos são dos anos 80", ressalta Bales. Já a Coreia do Sul dispõe dos mais modernos sistemas bélicos graças aos EUA e à Alemanha.
Máquina de guerra dos EUA
Mas os números mostram quais são os pontos fortes das respectivas Forças Armadas. Enquanto a Marinha e a Força Aérea são o forte do Japão, o Exército é a arma mais numerosa em ambas as Coreias. O número relativamente elevado de tanques e artilharia pesada da Coreia do Norte e da Coreia do Sul mostram que os seus exércitos se destinam a grandes batalhas e a defender as fronteiras. O grande número de submarinos norte-coreanos pode ser atribuído ao seu elevado potencial de dissuasão. E os números também mostram, é claro, a determinação de um país em se defender.
No entanto, tudo isso pode ser posto de lado se a poderosa máquina de guerra dos EUA intervir num possível conflito. Um olhar sobre as forças estratégicas de mísseis, responsáveis tanto pelos mísseis de longo alcance como pelo armamento nuclear, deixa isso muito claro. A China e os EUA dispõem dessas unidades, ao contrário da Coreia do Sul e do Japão. A Coreia do Norte quer tê-las, mas encontra grandes problemas para desenvolver mísseis de longo alcance confiáveis. A vantagem militar e tecnológica dos EUA é tão grande que a Coreia do Norte teria poucas chances.
"Apesar de todas as considerações técnicas, não devemos esquecer da vulnerabilidade mútua das Coreias do Norte e do Sul", diz Bale. Cerca de 70% das forças terrestres norte-coreanas estão estacionadas na fronteira, e Seul fica a apenas 50 quilômetros da fronteira. "Mesmo com tecnologia ultrapassada é possível executar um ataque devastador sobre a Coreia do Sul com o grande número de tanques, artilharia e veículos de transporte de tropas."