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A tecnologia que pode salvar a Grande Barreira de Corais

27 de abril de 2017

Para mitigar descoloração, pesquisadores tentam criar nuvens capazes de refletir os raios do sol com mais eficiência. Técnica é considerada o último recurso para proteger o maior sistema de recifes do mundo.

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A Grande Barreira de Corais vista do alto: clarear as nuvens foi sugerido como um último recurso
A Grande Barreira de Corais vista do alto: clarear as nuvens foi sugerido como um último recursoFoto: Imago/ZUMA Press

O futuro da Grande Barreira de Corais é incerto. O ecossistema tenta se recuperar de um segundo evento de descoloração grave causado pelo aumento das temperaturas do oceano, um evento, como apontam todos os indícios, ligado às mudanças climáticas.

Mas um grupo de biólogos marinhos da Austrália acredita que o recife ainda pode ser salvo. Eles propõem uma engenharia para artificialmente criar nuvens mais brilhantes capazes de refletir os raios solares e manter as águas mais frias.

Nos últimos seis meses, pesquisadores do Instituto de Ciências Marinhas de Sydney e do Grupo de Tecnologia Oceânica da Universidade de Sydney têm pesquisado sobre uma técnica chamada tecnologia de Clareamento de Nuvens Marinhas (MCB, na sigla em inglês) em nuvens de baixa altitude sobre a Grande Barreira de Corais.

A ideia é que a pulverização de sal na atmosfera possa encorajar a formação de gotículas maiores, resultando em nuvens maiores e mais densas.

Último recurso

Clarear as nuvens acima da Grande Barreira de Corais foi sugerido como um último recurso para proteger o maior sistema de recifes do mundo de mais uma descoloração catastrófica.

Branqueamento intenso de corais na Austrália

Daniel Harrison, assistente de pesquisa do Grupo de Tecnologia Oceânica, conta que a equipe discutiu uma série de estratégias para mitigar os danos, incluindo o bombeamento de água fria diretamente para o ecossistema se as temperaturas se tornarem muito altas, ou até mesmo o uso de engenharia genética para criar espécies mais robustas de coral.

Os cientistas, no final, concluíram que criar nuvens refletivas era a opção mais viável.

"Estamos nos concentrando no MCB como um meio para resolver o problema de descoloração da Grande Barreira de Corais, principalmente porque ele tem mais potencial para mitigar esse efeito na incrivelmente extensa área do ecossistema – que tem aproximadamente o tamanho da Alemanha", diz Harrison.

Ele também afirma que a técnica não é agressiva ao meio ambiente. Os cientistas preveem efeitos colaterais mínimos.

"Uma das vantagens do MCB é que ele replica processos naturais de pulverização do mar, que já adicionam um núcleo de condensação (parte em que a água condensa) nas nuvens da camada limite marinha (parte da atmosfera influenciada pelo oceano)", diz Harrison.

"Nenhum produto químico é usado, as gotas são de curta duração, duram cerca de 24 horas, e só preciso usar a tecnologia nos períodos em que os corais estiverem com alto risco de descoloração."

Harrison pretende agora se concentrar integralmente na pesquisa de como a tecnologia de clareamento de nuvens poderia ser usado para salvar a Grande Barreira de Corais. Ele quer utilizar modelos computacionais detalhados das condições atmosféricas e oceanográficas, que, ao final, podem ser seguidos por testes em campo.

"Eu gostaria de criar um protótipo de nuvem-refletora para testes nos próximos um a dois anos. O recife já está experimentando seu segundo grande ano de descoloração. Se vamos intervir, precisamos fazê-lo agora."

Modificando o clima

A ideia de que os cientistas podem neutralizar os efeitos das alterações climáticas usando técnicas para manipular o próprio clima pode soar como ficção científica – mas não é nova.

A tecnologia de clareamento de nuvens foi proposta pela primeira vez em 1990 pelo cientista britânico John Latham na revista científica Nature.

Great Barrier Reef Korallenriff
Cientistas chegaram a considerar modificar corais geneticamente Foto: Gergely Torda for ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies

Desde então, o Projeto de Clareamento de Nuvens, baseado no Vale do Silício, tem sido responsável pela maior parte das pesquisas sobre o conceito. Atualmente, o grupo desenvolve um pulverizador capaz de dispersar partículas de sal com tamanho e quantidade exatas para alterar as nuvens.

A pesquisa faz parte do amplo campo da geoengenharia, ou de intervenções no clima, que envolve intervir no sistema climático da Terra para limitar os efeitos adversos do aquecimento global.

O maior projeto mundial do gênero foi lançado em março pela Universidade de Harvard. O objetivo é verificar se o lançamento de aerossol na estratosfera da Terra pode ser usado com segurança para simular os efeitos de resfriamento de uma grande erupção vulcânica no caso de um aumento extremo das temperaturas globais.

Nem todo mundo está convencido de que geoengenharia é uma boa ideia. Alguns especialistas argumentam que intervenções climáticas em grande escala podem ter impactos imprevisíveis e adversos no sistema atmosférico natural.

Eles também apontam para um "risco moral" de que geoengenharia pode ainda reduzir a motivação para reduzir as emissões de carbono.

De qualquer forma, os especialistas enfatizam que a engenharia climática não deve ser tratada como uma solução rápida para os efeitos do aquecimento global. Só deve ser usada como uma solução de curto prazo.

Harrison aponta que, enquanto o debate sobre a geoengenharia continua, o tempo para salvar a Barreira de Corais está se esgotando.

"Acho que o público em geral, e também muitos cientistas, não compreendem plenamente a magnitude do problema do aquecimento global", diz. "Ecossistemas sensíveis como a Grande Barreira de Corais estão começando a entrar em colapso diante dos nossos olhos."

"Se somos capazes de desenvolver tecnologias para explorar além do nosso sistema solar, andar na Lua - e talvez até Marte em um futuro não muito distante - então certamente podemos salvar a Grande Barreira de Corais da morte por superaquecimento."