A tentativa de Biden de liderar luta contra crise climática
22 de abril de 2021Apenas três meses após tomar posse, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reúne nestas quinta (22/04) e sexta-feira 40 líderes internacionais numa cúpula virtual sobre o clima, proclamando um retorno dos EUA à linha de frente na luta contra as mudanças climáticas em meio a crescentes preocupações com o rápido aquecimento do planeta.
Após os Estados Unidos afastaram-se do Acordo de Paris e das preocupações em relação ao aquecimento global durante o governo do ex-presidente Donald Trump, Biden anunciou o retorno ao acordo global sobre o clima já em seu primeiro dia no cargo.
Antes da abertura da Cúpula de Líderes pelo Clima, a Casa Branca anunciou que Biden se comprometerá a cortar as emissões dos EUA de gases causadores do efeito estufa em ao menos pela metade até 2030.
Biden afirmou esperar que o novo objetivo americano incentive outros líderes a estabelecer metas mais ambiciosas de corte de emissões, que têm acelerado as mudanças climáticas num ritmo sem precedentes, segundo um representante da Casa Branca.
Às vésperas da cúpula, a União Europeia (UE) chegou a um acordo para reduzir em pelo menos 55% as emissões até 2030, em comparação com valores de 1990.
Biden convidou para a cúpula os líderes dos 17 países responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases do efeito estufa e do PIB mundial. Biden convidou tanto líderes de países que demonstraram uma "forte liderança climática" quanto de países especialmente vulneráveis às alterações climáticas, anunciou a Casa Branca.
Além da União Europeia foram convidados representantes do Brasil, da China, Índia, Canadá, Rússia, Reino Unido, Alemanha e África do Sul, entre outros.
Ceticismo em relação a Bolsonaro
Além dos presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, Bolsonaro vai discursar nesta quinta-feira na cúpula, assim como o presidente da França, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, entre outros líderes.
Sob Bolsonaro, desmatamento, queimadas e crimes ambientais na Amazônia chegaram a índices alarmantes. E esse cenário não gera expectativas positivas, apesar dos sinais vindos do Planalto de que o Brasil se venderá ao mundo e a Biden como comprometido com o meio ambiente .
Bolsonaro enviou na semana passada uma carta de sete páginas a Biden, na qual se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal no Brasil até 2030. O presidente também reiterou o pedido de apoio internacional para alcançar metas de redução de emissões.
Na campanha eleitoral à Casa Branca, Biden propôs que países forneçam ao Brasil 20 bilhões de dólares para combater o desmatamento e disse que o país deve sofrer repercussões se falhar esse objetivo. Na época, Bolsonaro classificou os comentários de Biden como "lamentáveis" e "desastrosos".
Na última sexta-feira, John Kerry, enviado para o clima do governo Biden pediu que Bolsonaro tome "ações imediatas" contra o desmatamento, e disse esperar que o governo brasileiro atue ao lado das comunidades indígenas e da sociedade civil nas questões ambientais.
Também na última sexta-feira, um grupo de senadores democratas enviou uma carta ao presidente americano criticando o péssimo histórico ambiental de Bolsonaro e pedindo a Washington que condicione qualquer ajuda financeira à redução do desmate na Amazônia.
Além de Bolsonaro, foi convidada para a Cúpula de Líderes pelo Clima Sinéia Wapichana, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Olhos voltados para a China
Com Putin e Xi Jinping, o presidente americano conseguiu que dois dos maiores emissores do mundo, Rússia e China, embarcassem nas discussões da cúpula.
Antes do evento, Putin – alvo de críticas do governo Biden em relação à suposta interferência eleitoral de Moscou e ao tratamento dado ao oposicionista Alexei Navalny – afirmou que a Rússia, o quarto maior emissor do mundo, "deve responder aos desafios da mudança climática".
A China, por sua vez, é de longe o maior produtor de CO2 do mundo e, ao lado dos EUA, emite cerca de metade da poluição responsável pelas mudanças climáticas.
O representante especial dos EUA sobre mudanças climáticas, John Kerry, que visitou a China na semana passada, enfatizou nesta quarta-feira em entrevista ao jornal The Washington Post que não há como resolver a questão do aquecimento global sem o envolvimento do país asiático, independentemente das diferenças com Washington em outras áreas.
Kerry afirmou que a China decidiu assinar o comunicado conjunto que será divulgado após a reunião, que reconhecerá a mudança climática como uma crise global. O governo chinês, por sua vez, confirmou que que XI fará um "discurso importante" no evento.
"A China usou pela primeira vez a palavra crise", ressaltou o ex-secretário de Estado, que espera que o presidente chinês faça um anúncio sobre "o que vai fazer para enfrentar este desafio imediato de agora até 2030".
Kerry acrescentou que Biden está procurando "aumentar a ambição globalmente", com o olhar voltado mais para 2030 do que para 2050. "Tenho ouvido muitas pessoas assinando zero emissões até 2050, e as elogio, isso é essencial. Mas ainda faltam 30 anos", disse Kerry, para quem o prazo deve ser mais ambicioso.
O representante americano advertiu que, se os países não se comprometerem a reduzir suas emissões dentro de nove anos e o aumento da temperatura da Terra não for mantido abaixo de 1,5 grau Celsius, será difícil zerar as emissões em 2050.
O primeiro dia da Cúpula de Líderes pelo Clima coincide com o Dia da Terra, criado em 1970 com o objetivo de promover a conscientização sobre problemas ambientais.
lf (Efe, Lusa, AFP, AP)