A volta dos que foram
5 de janeiro de 2006Desde a reunificação da Alemanha em 1990, o êxodo populacional já fez com que mais de um milhão de habitantes dos Estados do Leste alemão tenham emigrado para a antiga Alemanha Ocidental, o que resultou em um excedente de 1,3 milhão de moradias, hoje abandonadas.
Durante os anos 90, acreditava-se em uma política de renovação urbana, que igualasse os padrões de moradia e infra-estrutura entre as antigas Alemanha Ocidental e Oriental, o que deveria ajudar a fixar a população no Leste alemão.
Entretanto, esta política demonstrou-se ineficaz e o governo alemão pretende agora demolir, até 2009, 350 mil moradias abandonadas. Estudos do fenômeno de emigração, como o projeto governamental Cidades Minguantes, demonstraram a necessidade de outros instrumentos para o controle do êxodo populacional.
Um outro estudo, recentemente encomendado pelo governo do Estado da Saxônia-Anhalt, constatou também que, ao contrário do que se pensa, a maior parte dos emigrados com nível superior tinha emprego na ex-RDA e que sobretudo as mulheres estão mais propensas a emigrar.
Instrumentos suaves de ação
A pesquisa, divulgada em 2005, foi dirigida pela professora Christiane Dienel da Universidade de Ciências Aplicadas de Magdeburgo-Stendal, que entrevistou mais de mil emigrados da Saxônia-Anhalt.
O estudo constatou, por exemplo, que não mais do que 15% dos emigrados da Saxônia-Anhalt abaixo dos 35 anos, em 2002, estavam desempregados, ou seja, não era o desemprego que os levava para o Oeste e sim o desejo de um trabalho melhor remunerado e com melhores chances de ascensão.
Em entrevista ao jornal Die Zeit, a professora Dienel explicou também que as mulheres estão mais propensas à emigração do que os homens. Segundo Dienel, em uma região assolada pelo desemprego como a ex-RDA, as mulheres possuem uma desvantagem ainda maior no mercado de trabalho.
No Estado alemão de Brandemburgo, 12% das mulheres entre 21 e 25 anos emigraram em 2003. Um fato preocupante, já que a brusca queda da taxa de natalidade também contribui para o despovoamento do Leste.
Além da vontade de ascensão profissional, Dienel explica que o desinteresse das mulheres do Leste em ter filhos está ligado também aos eventuais parceiros que encontrariam na antiga Alemanha Oriental: desempregados, alcoólatras, autoritários.
Assim como o Cidades Minguantes, o estudo da professora Dienel sugere a utilização de "instrumentos suaves de ação" no combate ao êxodo populacional do Leste.
A introdução de agências de retorno (Rückkehragenturen), que ajudem os retirantes, sobretudo os de nível superior, a voltar à terra natal, é um dos principais intrumentos sugeridos pela pesquisa.
Agências de retorno
A sugestão da professora Dienel já é realidade, desde 2001, em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. DW-WORLD conversou com a coordenadora da agência de retorno mv4you, Sabine Ohse.
Ela nos explicou que, apesar do alto desemprego, ainda existe mercado para lideranças e pessoal de nível superior no Leste alemão, justamente porque foram estes que mais emigraram.
Esta constatação levou à introdução da agência de retorno mv4you, em inglês: Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental para você.
Trata-se de uma agência por internet especializada em pessoal de nível superior e lideranças. Através de um cadastro na agência, o cliente explica a data em que quer retornar e o seu campo de atividade.
Trabalhando em conjunto com a Agência Federal do Trabalho, mv4you já intermediou, desde sua fundação, mais de 200 empregos para emigrados que queiram retornar ao seu Estado natal.
Sabine Ohse nos informou que o sucesso de sua agência já influenciou os Estados da Saxônia e Saxônia-Anhalt a introduzirem agências de retorno semelhante, que atualmente atende também a uma clientela de nível superior que, embora não provenha de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, quer se estabelecer no Estado.