Stasi
16 de janeiro de 2011O presidente alemão Christian Wulff inaugurou neste sábado (15/01) em Berlim uma nova mostra sobre a Stasi, o serviço secreto da Alemanha Oriental. A escolha do dia não foi casual, já que no 15 de janeiro de 1990, exatamente 21 anos antes, ativistas dos direitos civis invadiram a central da organização, na então Berlim Oriental, com intenção de salvar os documentos ali armazenados, antes que os funcionários do órgão os destruíssem, o que já tinham começado a fazer.
Contra a vontade de muitos políticos da Alemanha Ocidental (que não queriam a publicação de dossiês sobre eles), o acervo da Stasi foi aberto após a reunificação alemã. Desta forma, as vítimas do regime da antiga RDA (República Democrática Alemã), puderam saber exatamente por quem e quando foram espionadas. Na nova exposição permanente, inaugurada em Berlim, além da história da Stasi e seus efeitos, seis destinos individuais são apresentados ao público.
Prisão por "denegrir a imagem do Estado"
Quem, como a estudante Gabriele Stötzer, se engajava na defesa de colegas críticos ou contra a expatriação do cantor Wolf Biermann, por exemplo, acabava rapidamente preso por "denegrir a imagem do Estado". Mesmo depois, em liberdade, Stötzer, artista de Gotha, cidade localizada na Turíngia, continuou na mira da Stasi. O órgão observava detalhadamente tudo o que acontecia na Galerie im Flur, uma galeria fundada por ela na cidade de Erfurt.
Burkhart Herzel também caiu em 1969 no foco da Stasi, simplesmente porque queria ouvir os Rolling Stones. Na então Alemanha Oriental, corria o boato de que a banda britânica de rock iria se apresentar em Berlim Ocidental, bem à beira do Muro. Centenas de jovens da RDA, entre eles Herzel, então com 18 anos, tinham esperanças de poder ouvir o show de graça. A Stasi, por sua vez, ligou seus alarmes. O jovem, de um pequeno povoado no estado de Brandemburgo, pagou sua paixão pelos Stones com uma detenção de seis semanas, acusado de ter "perturbado a paz do país".
Por supostos planos de fuga e rejeição ao trabalho, Herzel foi ainda condenado mais duas vezes a quatro anos de prisão, antes de conseguir passar para o lado ocidental do país, em meados dos anos 1970. E o show dos Stones ao lado do Muro, no fim, não havia passado de um mero boato.
Para Marianne Birthler, diretora do departamento que administra os arquivos da Stasi, os destinos individuais são o cerne da exposição, "porque tocam na emoção das pessoas". Desta forma, a mostra presta um tributo àqueles "que pagaram um preço alto por terem ansiado pela liberdade", diz ela.
Birthler, que deixa em 2011 a administração do acervo da Stasi após 10 anos no cargo, diz ter esperança de atingir um público mais amplo com a exposição que acaba de ser inaugurada. Ela pretende chegar sobretudo àquelas pessoas que acreditam que suas vidas, na RDA, não tinham nada a ver com a polícia política.
Pois, de fato, a Stasi pairava por toda a sociedade – nos chamados Departamentos Próprios do Povo (VEB, na sigla em alemão), nas associações esportivas, nas iniciativas culturais, nos departamentos públicos, na Igreja, nas Forças Armadas. Não havia lugar que fosse isento das influências do órgão.
Quase 2 mil espiões no estádio de futebol
Além da narração dos destinos individuais das vítimas, a exposição em Berlim mostra também a estrutura, a história e os métodos do serviço secreto da RDA, bem como as biografias dos chefes do órgão, entre eles de Erich Mielke, que esteve à frente da Stasi por 32 anos. Filmes de espionagem também compõem a mostra.
Interessante e grotesco, na exposição, é o esboço de um estádio de futebol em Dresden, onde, em dezembro de 1974, o time da cidade (Dynamo) jogou, em um campeonato europeu, contra a equipe de Hamburgo (Hamburger SV). Entre os 28 mil torcedores presentes, havia exatos 1936 espiões da Stasi. A partida terminou em 2 a 2, e o time de Dresden acabou saindo do campeonato, porque havia perdido o jogo em Hamburgo anteriormente.
Mostra pequena, porém requintada
O título da exposição foi algo que provocou uma certa dor de cabeça nos organizadores. Por muito tempo, conta Marianne Birthler, os envolvidos procuraram um nome adequado para a mostra, antes de chegarem à conclusão de que o termo Stasi já havia se tornado, de fato, sinônimo de polícia política.
Como a exposição acontece em um ponto central da cidade, no bairro de Mitte, Birthler espera atrair não apenas berlinenses, mas também turistas de outras regiões do país e do exterior. Possivelmente ela terá suas expectativas superadas, já que a mostra sobre a Stasi fica bem ao lado do antigo posto de controle Checkpoint Charlie, a 200 metros do local onde ainda se encontram restos do Muro de Berlim. Ou seja, um dos pontos turísticos mais visitados da cidade.
Autor: Marcel Fürstenau (sv)
Revisão: Marcio Damasceno