Abertura da Documenta 14 troca Kassel por Atenas
27 de janeiro de 2017Durante 40 anos Lydia Koniordou trabalhou como atriz e diretora em diversos teatros na Grécia. Em novembro de 2016, assumiu o cargo de ministra da Cultura e do Esporte no governo de Alexis Tsipras.
Em entrevista, ela falou sobre o papel da cultura num país marcado pela crise, como também sobre a Documenta, a maior exposição mundial de arte que acontece, tradicionalmente, a cada cinco anos na cidade alemã de Kassel, mas que nesta edição terá Atenas como segunda locação.
O lema da Documenta 14 é "Aprendendo com Atenas". À DW, Lydia Koniordou falou sobre o que o mundo pode aprender com os gregos: "Democracia. Em todo o mundo, nos encontramos numa encruzilhada."
DW: A política de austeridade econômica da Grécia parece ser bem-sucedida. Em vez dos 875 milhões de euros acordados com os credores, o orçamento de 2016 mostrou um orgulhoso superávit primário de 4,4 bilhões de euros. Como a cultura contribuiu para tal?
Lydia Koniordou: Atualmente, cada euro é utilizado da melhor maneira possível. Evitam-se desperdícios, economiza-se, e o maior ganho possível é tirado de cada gasto. Pela primeira vez na história, os orçamentos dos dois teatros estatais em Atenas e Salônica apresentam um superávit, mesmo que pequeno. Assim, ficamos cada vez mais aptos a responder às exigências do público, para aumentar os padrões de qualidade artística e criar postos de trabalho.
Neste ano, a 14ª edição da Documenta vai acontecer durantes três meses em dois lugares: em 8 de abril ela se inicia em Atenas, em 10 de junho, em Kassel. O lema da mostra artística é "Aprendendo com Atenas". O que se pode aprender com Atenas?
Democracia. Em todo o mundo, nos encontramos numa encruzilhada. Deixamos para trás uma velha época e estamos prestes a entrar numa nova, sem saber para onde a viagem vai levar. Mas, de uma coisa estou certa: a democracia, o presente que a pequena Atenas deu ao mundo no século 5° a.C não é algo óbvio, é preciso esforço contínuo. É preciso ser vigilante para que os bens sociais sejam mantidos, para que a transparência prevaleça nas instituições em constante mudança.
A primeira parte da Documenta vai abordar isso em Atenas?
Haverá uma série de eventos sobre temas como democracia, liberdade, tolerância perante as diferenças, com a presença de muitos participantes renomados. Esse vai ser um dos focos. O segundo é sobre os jovens artistas, o que eles têm a nos dizer. Suas contribuições poderão ser vistas não só em museus, mas também em lugares públicos. Então se mostrará que a cultura não é algo isolado em si mesmo, mas parte da mudança social, ou pode até mesmo ser o impulso inicial para tal.
Antes da crise, as atividades culturais no país eram financiadas em grande parte pelo setor público. É verdade que nos últimos anos cada vez mais fundações privadas estão envolvidas nesse financiamento?
A crise é um desafio. Ela nos obriga não somente a testar nossas prioridades, mas também a utilizar mais as verbas da União Europeia para financiar projetos artísticos e culturais. No ano passado, conseguimos obter 94% do dinheiro destinado à Grécia pela UE para tais fins. Parece óbvio, mas é uma novidade.
Por sorte, há também a importante contribuição da Fundação Stavros Niarchos, que disponibiliza a sua infraestrutura e apoia financeiramente tanto instituições culturais estatais quanto organizações privadas. A Fundação Onassis participa do financiamento dos trabalhos de reforma do teatro estatal. Outras instituições também mostraram interesse em ajudar a cultura. Nestes tempos difíceis, é importante que volte a despertar o espírito do "grande benfeitor", que conhecemos do século 19.