Prescrição de heroína
25 de julho de 2009Jürgen Heimchen jamais esquecerá o dia em que seu filho Thorsten morreu na delegacia de polícia de Wuppertal, na Renânia do Norte-Vestfália. Viciado em heroína, o jovem de 21 anos havia sido preso por roubar um videocassete. Naquela ocasião, a ajuda do pai veio tarde demais. Thorsten se enforcou na cela em que ficara confinado, destruído pela ânsia constante de garantir a próxima dose, quer roubando, quer pedindo esmolas.
Hoje com 66 anos de idade, Heimchen acredita que a vida do filho teria sido poupada, se em 1992 fosse possível um médico prescrever heroína ao jovem. Por isso ele luta, desde essa perda, pela legalização das drogas. Em 1993, fundou a Associação Nacional de Pais e Familiares por Programas Antidrogas Humanos e de Aceitação.
Desde 1998, a associação definiu o 21 de julho como data oficial para recordar as mortes dos dependentes de drogas e realizar atividades para melhorar as condições de vida dos viciados. Em 2009, a data foi lembrada em mais de 40 cidades alemãs.
Marco na política de combate às drogas
Este ano, Heimchen fala pela primeira vez de "um marco na política alemã de combate às drogas", referindo-se à lei ratificada pelo Parlamento em maio, autorizando os médicos a prescrever heroína sintética no tratamento de dependentes severos de drogas.
Para receber a heroína, os pacientes deverão estar sob acompanhamento médico, ter mais de 23 anos de idade e apresentar um histórico com cinco anos ou mais de dependência de drogas e pelo menos duas terapias fracassadas. Até então, a distribuição de heroína sintética (diamorfina) era feita apenas em projetos experimentais.
"Contribuímos para uma mudança na política de combate às drogas na Alemanha", comemora orgulhoso o presidente da associação pró-dependentes. Todos os anos, no dia 21 de julho, Heimchen realiza um culto religioso em memória das vítimas fatais das drogas. Além disso, distribuiu panfletos nas proximidades da estação ferroviária central de Wuppertal e conversa com os transeuntes sobre os problemas ligados à dependência química.
Apesar desses esforços, em 2008 1.449 pessoas perderam a vida na Alemanha devido à dependência de drogas. Esse é o maior número registrado em vários anos e serve como alerta para Heimchen, que defende: "Precisamos dar chance de sobrevivência aos viciados, o que não é possível através dos programas de substituição com base na metadona".
Necessidade de distribuição em grande escala
Embora satisfeito com a aprovação da nova lei, Heimchen ainda tem preocupações quanto à implementação. Segundo suas estimativas, em toda a Alemanha, cerca de 30 mil viciados poderiam se beneficiar da distribuição médica de heroína. Fazer com que a heroína chegue até eles, porém, é ainda um desafio. "Os custos não devem ser assumidos apenas pelas seguradoras de saúde, mas também pelas prefeituras", sugere o dirigente da associação de pais.
O fato de a prescrição da droga estar acoplada a um acompanhamento psicossocial aumenta muito a carga financeira para os municípios. "Por isso, provavelmente muitas cidades não manifestarão interesse na distribuição de heroína", prevê Heimchen. Ele garante, no entanto, que sua associação lutará para que todo o país seja abastecido para o programa, o mais breve possível.
Chance de uma vida quase normal
A Associação de Pais e Familiares por Programas Antidrogas Humanos e de Aceitação é representada por 14 grupos de afiliados nos estados da Renânia do Norte-Vestfália, Schleswig-Holstein e Hamburgo.
Em Wuppertal, cerca de 40 pais pertencem ao grupo de autoajuda, organizado em prol de uma vida digna para que os dependentes de drogas. "O grupo de pais me deu coragem para lutar por meu filho Michael", diz Heidrun Behle, vice-presidente da associação.
Delitos para a aquisição de drogas, prisões, desistências de terapias e uma tentativa de suicídio são algumas das más experiências que Behle já teve com seu filho. "Mas desde que Michael recebe metadona não é mais um criminoso e pode morar sozinho e até mesmo trabalhar às vezes", conta a mãe. "É justamente essa chance que até mesmo os dependentes severos precisam ter."
Autor: Sabine Damaschke
Revisão: Augusto Valente