Acordo Brasil-EUA
12 de abril de 2010O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, e seu colega de pasta dos Estados Unidos, Robert Gates, assinam nesta segunda-feira (12/04), em Washington, um acordo de cooperação militar.
Segundo o Ministério brasileiro da Defesa, o pacto objetiva aprofundar a cooperação em áreas como contatos técnicos, treinamento, intercâmbios, visitas de navios, iniciativas comerciais relacionadas à defesa e programas e projetos de tecnologia de defesa.
Claudia Zilla, cientista política especializada em América Latina e pesquisadora do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP) de Berlim, acha que é muito cedo para avaliar adequadamente os benefícios concretos para ambas as partes.
Segundo ela, trata-se em princípio de um "acordo-quadro genérico", mais relativo a aspirações futuras do que com conteúdos definidos na atualidade.
Aproximação por parte de Washington
No contexto latino-americano, isso implica uma maior vinculação estratégica dos Estados Unidos com a América do Sul, acredita Zilla. Em sua opinião, por já terem uma forte presença na Colômbia, com este acordo-quadro os EUA estariam dando um sinal de interesse ao Brasil e de preocupação com a região.
Sob o governo Lula, o Brasil, principal parceiro dos Estados Unidos na região, iniciou a diversificação de suas relações exteriores (com China, Irã e Rússia, por exemplo) e de sua cooperação militar.
Por isso, salienta Zilla, o acordo é uma tentativa de aproximação por parte de Washington. Neste contexto, ela lembra os interesses dos Estados Unidos e da França na licitação brasileira para a compra de aviões militares.
Em relação aos países vizinhos, a especialista considera importante evitar irritações como as ocorridas com a instalação de bases militares norte-americanas na Colômbia.
Cooperação pode ajudar no combate ao narcotráfico
Questionada sobre a importância da cooperação militar entre Brasil e EUA em nível mundial, a especialista ressalta que a América Latina é a região mais pacífica do chamado Terceiro Mundo. "Aqui não há ameaças reais de agressão bélica entre os Estados. Não há um verdadeiro risco de que as agressões verbais trocadas entre os governos da zona andina se transformem em atos de violência mútua."
Ela destaca também que a região não abriga grupos terroristas que atuem globalmente de forma sistemática. Segundo ela, as ameaças transnacionais existentes na América Latina e que irradiam efeitos para o resto do mundo residem no crime organizado, sobretudo o relacionado ao narcotráfico.
Uma cooperação militar entre governos latino-americanos, como também com os EUA (como acontece com a Colômbia) poderia gerar, em sua opinião, um maior controle e um combate mais forte destes fenômenos.
Posições diferenciadas em relação ao Irã
O acordo pode irritar outros países? Zilla acha que não, pois "nem Rússia, nem China, nem Irã têm um 'contrato de exclusividade' com o Brasil". Ela salienta que a aproximação com esses países é um fenômeno bem mais novo.
Tanto sob o aspecto histórico como geográfico, uma cooperação entre Estados Unidos e Brasil na área militar acontece de forma "mais natural" do que entre o Brasil e estes "atores extrarregionais, lembra.
"Portanto, é improvável que por parte deles haja uma irritação manifesta ou que sejam impostos condicionamentos. Não devemos esquecer que, em relação ao caso Irã, o Brasil assume uma postura diferente da dos EUA. O Brasil insiste no diálogo, na política de inclusão do Irã, em vez de sanções. Lula também se mostrou crítico a respeito do acordo de controle nuclear entre Rússia e Estados Unidos."
A especialista acha que, por ser seu principal parceiro na América Latina, a Alemanha deveria explorar melhor o potencial do Brasil na área da defesa. Ela lembra que, em termos de segurança, Brasil e Alemanha, ao lado de Índia e Japão, aspiram a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, "mas este projeto se exauriu sem se estender para uma cooperação mais ampla".
Entrevista: Roselaine Wandscheer
Revisão: Augusto Valente